O Brasil ocupa um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Além disso, lida com alarmantes números de violência sexual e doméstica contra mulheres. Esse cenário demanda do estado e da sociedade políticas públicas de combate e prevenção dessas violações dos direitos humanos.
De acordo com o balanço de denúncias colhidas pelo Disque 100, canal para relatar casos de violação de direitos humanos, o Brasil somou pelo menos 175 mil casos de exploração sexual de crianças e adolescentes entre 2012 e 2016, o que representa quatro casos por hora.
Além de ser uma questão social, essas formas de violência são uma questão de saúde pública, pois os impactos gerados nas vítimas comprometem seu estado físico e emocional trazendo graves consequências como transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade extrema, fobias, irritabilidade, baixa autoestima, o que reflete nos cuidados com a própria saúde agravando ainda mais a situação de violência.
Com a baixa autoestima, a saúde bucal é uma das primeiras a ser atingida, deixando sinais evidentes de danos. E foi a partir disso que, em 2009, surgiu o projeto “Ações de Saúde Bucal para Mulheres, Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual em Belém”, da Faculdade de Odontologia da UFPA em parceria com o ProPaz.
O projeto surgiu com o objetivo de promover, por meio de ações de promoção de saúde e cuidado humanizado, atividades de acolhimento, rodas de conversa, atividades de educação em saúde bucal integral a crianças e adolescentes em situação de violência, estimulando o autocuidado e autopercepção. Além de oferecer tratamento e cuidado odontológico integral.
A coordenadora do projeto, Liliane Nascimento, explica quegeralmente a saúde bucal é associada à higiene a escovação e que muitos dos outros agravos como os traumas faciais e outros problemas associados à situação de violência são negligenciados pelo profissional dentista.
“Nós precisamos não só atender as crianças de maneira integral na nossa habilidade de técnicas, mas também saber diagnosticar e identificar as situações de vulnerabilidade. Existe na literatura da Odontologia uma vasta gama de material mostrando a importância do dentista no diagnóstico precoce porque a situação de violência na criança passa muito pela negligência”, defende a coordenadora do projeto, professora Liliane do Nascimento.
A estudante do sétimo semestre de odontologia, Glória Laredo, acredita que o estágio no projeto, por ser um campo rico de experiências, favorece a busca pelo conhecimento e aperfeiçoamento. “No projeto a gente acaba desenvolvendo mais esse lado de prestar atenção na criança como um todo, no estado emocional dela, físico, poder conversar, ter um tempo mesmo para fazer um atendimento de qualidade”.
Para Jéssica Miranda, outra bolsista do projeto, a experiência tem sido muito positiva em termos de aprendizado. “Nós temos certeza que vamos sair profissionais diferenciados que a gente já tem esse olhar mais humanizado em perceber aquelas particularidades de uma pessoa que vai estar numa situação de violência, então tem sido enriquecedor participar disso e também para a sociedade a gente vai ter mais profissionais qualificados para fazer a diferença nesse cenário” afirmou.
Para conhecer mais o projeto “Ações de Saúde Bucal para Mulheres, Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual em Belém”, não perca o UFPA Comunidade.