A qualidade de vida depende em grande medida de uma boa saúde mental, mas as demandas do trabalho e as pressões por produtividade podem comprometer essa área, especialmente no ensino superior.
De acordo com a pesquisa “Trabalho Docente e Saúde: tensões da Educação Superior”, entre 2006 e 2010, 14,13% dos pedidos de afastamento do trabalho dos professores da UFPA estiveram relacionados à saúde mental. Depressão e síndrome de Burnout estão entre os problemas mais frequentes apontados no trabalho realizado por Jadir Campos, no Programa de Pós-Graduação em Educação.
O adoecimento mental também é uma realidade que atinge os estudantes. Criada em 2016, a Superintendência de Assistência Estudantil da UFPA (SAEST) tem como objetivo garantir a permanência dos alunos na universidade e oferece serviços em diversas áreas, entre elas a de saúde mental.
Para tratar dos fatores que levam ao adoecimento mental no ensino superior, o UFPA Debate conta com a participação da psicóloga da SAEST, Adriana Nascimento; da presidente da Associação dos Povos Indígenas Estudantes da UFPA e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Eliene Putira Sacuena; e da diretora-geral da Associação de Docentes da UFPA, Rosimê Meguins.
Atualmente, Adriana é a única psicóloga da SAEST e é responsável por um trabalho itinerante que visita todos os campi da Universidade. Para ela, as principais dificuldades dizem respeito à disponibilidade de espaço para o atendimento e a criação de ações a longo prazo, mais integradas, que não sejam apenas paliativas. Ela considera que é preciso criar uma estrutura de apoio melhor para receber estudantes que vem de fora e podem ter dificuldades para se adaptar à nova realidade, longe da família e em uma cultura diferente.
Já a estudante Eliene Putira acredita que grupos minoritários, como os indígenas e os negros, podem ser mais vulneráveis ao adoecimento mental porque, muita das vezes, precisam se dedicar aos estudos mais que outros estudantes e ainda precisam provar que são capazes de estar na universidade. Ela também considera que alguns estudantes são insensíveis ao problema do adoecimento mental porque se cultiva a ideia de que é preciso fazer sacrifícios para estar na pós-graduação.
Atuando como professora na UFPA desde a década de 1990, Rosimê Meguins vem acompanhando as mudanças na rotina do trabalho docente na universidade. Para ela, com a implantação dos cursos de pós-graduação, os professores passaram a acumular mais atividades sem um aumento no salário, o que seria compensado por um prestígio que muitos almejam. Rosimê observa, no entanto, que a busca desse reconhecimento pode atrapalhar a qualidade de vida e a divisão entre o tempo de lazer e de trabalho.
A professora Rosimê Meguins também atribuí às agências de fomento, como o CNPq, um dos fatores que podem levar ao adoecimento mental no ensino superior. As agências passaram a estabelecer padrões de produtividade e prazos que os professores têm que cumprir para conseguir recursos para realizar pesquisas. Com isso, criam um ambiente de competitividade que pode levar a situações de estresse.
Além desses pontos, nossas convidadas discutem alternativas para o enfrentamento ao adoecimento mental nas universidades, como a necessidade de criação de políticas de saúde mental para atender toda a comunidade acadêmica. Confira nesta edição do UFPA Debate.
Apresentação: Fabrício Queiroz
Produção e roteiro: Leonardo Rodrigues
Gravação e montagem: João Nilo e Éder Monteiro