Aplicativo Alerta Clima Indígena

O Aplicativo Alerta Clima Indígena está em pauta nesta edição do UFPA Pesquisa. A jornalista Elissandra Batista conversa com a pesquisadora Clarissa Rayol, mestra em Ciências da Comunicação, pelo Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM/UFPA). E vencedora do prêmio Compós 2022, com a dissertação intitulada “O APLICATIVO ALERTA CLIMA INDÍGENA: digitalização das Terras Indígenas à luz da Ecologia da Comunicação”.

A ferramenta digital foi desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) junto ao Instituto Raoni, Conselho Indígena de Roraima (CIR) e Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Araribóia (CCOCALITIA). A finalidade do Aplicativo Alerta Clima Indígena, de acordo com a pesquisadora Clarissa Rayol, é a divulgação de dados científicos sobre clima, fogo e desmatamento das terras indígenas da Amazônia brasileira.

Além disso, a pesquisa aponta que a plataforma dispõe de recursos para a criação de alertas contra ameaças às terras indígenas e a inserção de informações sobre os usos tradicionais como roça, caça, pesca e coleta. Assim, com o aplicativo, os indígenas podem participar e contribuir efetivamente no processo de gestão ambiental dos seus territórios. De acordo com Clarissa Rayol, muitas lideranças e jovens indígenas estão a par da tecnologia. Inclusive existem muitos que se formam e voltam para o território para acrescentar e contribuir com a comunidade.

“Então, tem vários engenheiros agrônomos, tem pessoas da área mesmo e até os que não são da área apresentam um domínio muito interessante. Então, esse protagonismo foi percebido muito na hora de dizer o que eles não queriam na plataforma, o que ia servir somente para o IPAM ou outras organizações terem acesso aos dados. E o que realmente poderia de fato acrescentar para a comunidade. Então, foi uma forma dos indígenas dizerem: o que nós queremos é isso, precisamos que isso seja mudado em relação as nossas demandas, não que a gente se adeque a vocês, mas que vocês se adequem as nossas demandas”, relata Clarissa Rayol.  

A pesquisadora conta, ainda, que hoje o aplicativo, que pode ser usado online e off-line, já corresponde a cerca de 90% das demandas dos povos indígenas que participam do projeto. E que o envolvimento e domínio da tecnologia pelos indígenas mais jovens são fundamentais nesse processo, já que no início houve um tensionamento com os mais velhos e as jovens lideranças sentaram com eles para conversar e explicar que também estariam fazendo parte da criação do aplicativo .

“E o que percebi foi a confiança dos mais velhos por saber que os jovens têm esse domínio, sabem como lidar. Seria estranho se eles não tivessem essa participação, provavelmente, esse projeto não teria esse sucesso e não estaria sendo utilizado por eles. Mas como as lideranças participaram da concepção, utilizam e têm esse conhecimento, os indígenas mais velhos confiaram. Mas isso só se tornou possível mesmo a partir dos caminhos que eles propuseram junto com o IPAM”, informa a pesquisadora.

Na dissertação de mestrado, Clarissa Rayol usa o conceito de Ecologia da Comunicação, como um dos referenciais teóricos da pesquisa. Uma perspectiva que possibilitou um estudo além das interações humanas, passando pela relação dos indígenas também com a natureza, incluindo a chuva, as plantas e os animais.

Além disso, a comunicação ecológica estabelecida a partir da digitalização da Terra Indígena Capoto/Jarina, por exemplo, permitiu que a Clarissa mapeasse o território sem estar presente, de fato, no local. E, assim, analisar o desmatamento, prever possíveis focos de incêndio e verificar os índices pluviométricos em determinado período. Tudo isso, por meio das informações científicas fornecidas pela plataforma.

“O aplicativo me fez interagir com a terra indígena mesmo estando distante, então, eu já estava ciente de quais eram os problemas que eles estavam passando e quais eram os pontos em que eles estavam mais aflitos, quais eram as preocupações e as reivindicações”, ressalta Clarissa Rayol.

Vencedora do prêmio Compós 2022, na categoria dissertação, Clarissa destaca também a importância do reconhecimento da pesquisa em nível nacional. Para ela, a premiação ajuda a dar mais visibilidade para o tema em um momento tão conturbado e críticos para os povos indígenas e o meio ambiente, principalmente, por medidas desastrosas do governo federal.  Além disso, a pesquisadora reforça que o prêmio Compós contribuir para maior visibilidade das pesquisas feita na Amazônia.

“É importante saber que o PPGCOM- UFPA está ali representado como vencedor, saber que a UFPA, que todas as produções também estão tendo mais essa visibilidade. E essa pesquisa é fruto disso, dessa discussão feita em sala de aula, dos eventos, das disciplinas que trazem a Amazônia como foco central. Então os resultados estão aí e acho que essa premiação é realmente uma premiação coletiva mesmo, de todos nós”, finaliza Clarissa.    

Para saber mais detalhes sobre o Aplicativo Alerta Clima Indígena e sobre a pesquisa intitulada “O APLICATIVO ALERTA CLIMA INDÍGENA: digitalização das Terras Indígenas à luz da Ecologia da Comunicação”, não perca essa edição do UFPA Pesquisa.

Apresentação, produção e roteiro: Elissandra Batista

Reportagem: Lívia Leoni

Gravação e montagem: João Nilo

Imagem: Ádon Bicalho / IPAM

O programa UFPA Pesquisa vai ao ar às quintas-feiras, às 11h, com reprise às terças-feiras, às 20h.

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