A diversidade sexual e de gênero é um tema que vem ganhando força e sendo discutido cada vez mais. Contudo, os estudos acadêmicos voltados para o campo da sexualidade e gênero começaram a ser desenvolvidos, no Brasil, ainda na década de 1970 e hoje já está consolidado. E quem fala sobre esse assunto no UFPA Pesquisa dessa semana é o professor Fabiano de Souza Gontijo, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA (PPGA/IFCH) e coordenador do Grupo de Pesquisa Sexualidades, Corpo e Gênero, o SEXGEN/UFPA.
Quem participa do programa, também, é o sociólogo Alan Silva de Aviz, mestrando do PPGA/UFPA e membro do SEXGEN. Ele fala sobre a sua atuação no Grupo de Pesquisa e como observa a importância das discussões em torno da temática para o campo acadêmico. “As discussões se tornam relevantes, inclusive, para aguçar e reforçar os argumentos do aluno para elaborações de trabalhos que venham a ser apresentados a nível nacional. Eu tenho percebido uma ampliação no número de eventos voltados aos debates sobre gênero, sexualidade, homoparentalidade e homocultura”, afirma o sociólogo.
Entre os assuntos levantados no programa, os pesquisadores falaram de que forma o SEXGEN aborda as situações de discriminação, desigualdade e violência contra o público LGBT. “O nosso objetivo é mostrar o porquê de essas pessoas serem discriminadas, se são sujeitos que também estão lutando pela felicidade. No fundo, estamos tentando entender os motivos que nos levam a transformar diferenças em desigualdades e como podemos minimizar os efeitos perversos desses fenômenos”, explica o professor Gontijo. Preconceito, discriminação, sexismo, homofobia, violências e direitos humanos são alguns dos temas discutidos no Grupo.
Doutor em Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS, Marseille), Fabiano Gontijo conta como foi criado o SEXGEN e sobre as principais linhas de pesquisa do Grupo. De acordo com o professor, o SEXGEN surgiu da necessidade de se criar um grupo de pesquisa voltado para essa temática. “Fomos tentando organizar um grupo, trazendo estudantes e pesquisadores dessas temáticas, para que pudéssemos dialogar um pouco sobre o assunto. Na época, eu era professor da UFPI, em 2006, e resolvi criar um grupo de pesquisa, cadastrado no CNPq. Juntei alguns colegas e estudantes da UFPI que estavam pesquisando essas temáticas e criamos o SEXGEN”, relembra o antropólogo.
O Grupo foi criado com quatro linhas de pesquisas. A linha “Culturas Identitárias Homossexuais” é destinada a lidar com os estudos sobre homossexualidades, identidades homossexuais ou questões identitárias relacionadas à homossexualidade. Já a linha “Homoconjugalidades e Homoparentalidades” é voltada para as especificidades das relações afetivas entre pessoas consideradas sendo do mesmo sexo, enquanto a linha “Gênero, Família e Relações de Poder” é direcionada às relações de gênero e relações de poder. E, por último, a linha de pesquisa “Saúde, Corpo e Sexualidades”, baseada nos estudos sobre a relação entre sexualidade e corporalidade, trabalhando desde os aspectos relacionados à saúde reprodutiva até os processos transexualizadores.
O pesquisador veio atuar na UFPA em 2013 e sediou o SEXGEN aqui. “Mas o grupo continuou existindo lá no Piauí e, em 2014, eu criei um núcleo do Grupo na UFOPA, em Santarém (PA). O Grupo está funcionando em rede”, afirma o professor, que esclarece que o SEXGEN não é um grupo de estudos da mulher ou de relações de gênero, mas tem como foco a diversidade sexual e de gênero. Em outras palavras, o Grupo se destina a entender como as sociedades pensam as diferenças, como são produzidas essas diferenças inscritas nos corpos e como elas são simbolizadas e significadas pelas pessoas em suas vidas cotidianas, principalmente no que diz respeito à experiência sexual.
“Falar de diversidade sexual e de gênero não é mesma coisa de falar de relações de gênero. O marcador de gênero é uma base sobre a qual se assenta, até certo ponto, os marcadores relacionados à sexualidade. Por isso, partimos do gênero para entender a diversidade sexual. Essa não é uma perspectiva global, mas a nossa perspectiva. Daí o fato de inserirmos ‘gênero’ no título do Grupo. O corpo é o suporte e, enquanto construção social e formulação cultural, ele se torna corporalidade, um outro marcador importante. Inicialmente, devemos refletir sobre o corpo, enquanto construção social e formulação cultural, para entender as relações de gênero e, a partir disso, trabalhar a sexualidade”, explica o professor.
Também, o professor citou algumas pesquisas voltadas para a temática da diversidade sexual que estão sendo desenvolvidas no Grupo, no contexto amazônico. “Hoje, o meu objetivo é trazer para dentro da Universidade pessoas interessadas em entender um pouco as realidades das experiências da diversidade sexual e de gênero em suas comunidades ou em suas cidades”, conclui o professor.
Homossexualidade em igrejas evangélicas é tema de pesquisa
O pesquisador na área de Antropologia Social Alan Aviz conta que o SEXGEN foi instituído na UFPA exatamente no período em que ele estava concluindo a graduação em Ciências Sociais. “A minha pesquisa de conclusão de curso já estava em andamento e era voltada para a questão da homossexualidade inserida em igrejas evangélicas, dentro da perspectiva de uma sociabilidade num contexto de conflito. Embora tivesse iniciado fora do Grupo, eu só pude aprofundar essas discussões e obter mais conteúdo a partir da participação no SEXGEN. Após concluir o TCC, Alan permaneceu no Grupo até ingressar na Pós-Graduação em Antropologia.
No mestrado, o sociólogo deu continuidade à temática e desenvolveu a pesquisa intitulada “Sexualidade e Religiosidade em Belém: uma etnografia junto a fieis homossexuais em bairros populares da capital paraense”. Ele foi motivado a elaborar o trabalho no momento em que algumas lideranças evangélicas ganharam espaço na mídia por conta de ações discriminatórias contra o público LGBT. “Eu tinha amigos homossexuais que continuavam a frequentar essas igrejas evangélicas. Eu me perguntava como eles, enquanto homossexuais, conseguiam criar esses espaços de sociabilidade em meio a uma rejeição. Assim, eu procuro mostrar que, enquanto homossexuais, não há a total abstinência do exercício da fé e da construção de rituais. Ainda que esses homossexuais saibam que existe um contexto de discriminação a eles reproduzidos, eles conseguem obter um bem-estar dentro desses espaços”, conta o mestrando.
Eles também falaram das metas, perspectivas e novos rumos que o Grupo tomará nos próximos anos. De acordo com Alan Aviz, o SEXGEN vai passar por um processo de mudança. “Nós tivemos a iniciativa de estruturar o Grupo em formato de extensão, com o objetivo de utilizar o cinema como uma ferramenta pedagógica para explorar os conceitos de gênero e sexualidade e dinamizar a perspectiva de enxergar as questões voltadas para essas temáticas. Consequentemente, iremos dinamizar a produção de textos, leituras e a participação de alunos da graduação em eventos ligados ao tema. Seria o ‘Cinedebate-SEXGEN’, no qual nós faríamos sessões de cinema pelo menos uma vez ao mês, convidando as comunidades acadêmica e externa a participar, debater e a contribuir com o projeto”, revela o pesquisador.