Ano Internacional das Línguas Indígenas

Ano Internacional das Línguas Indígenas em debate nesta edição do UFPA Ensino. Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) apontam que 96% das línguas existentes no mundo são faladas por apenas 3% da população, realidade alarmante, principalmente, em relação as línguas indígenas.

Diante desse quadro, no qual somente no Brasil 190 línguas indígenas encontram-se sob o risco de extinção, a UNESCO declarou o ano de 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas. A finalidade é salvaguardar as línguas e o conhecimento produzido pelos falantes, por meio do desenvolvimento de ações em várias frentes, reunindo indígenas e não-indígenas no propósito de preservar, revitalizar e promover as línguas indígenas no Brasil e no mundo.

Para destacar a importância do tema e o papel da educação nesse processo, nesta edição do programa UFPA Ensino, recebemos o pesquisador Sidney Facundes, professor da Universidade Federal do Pará e líder do Grupo de Estudos sobre Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia (Gelcia), que relata a experiência com os indígenas Apurinã, comunidade para a qual desenvolveu uma ortografia própria. Participa também Jeanne Barros de Barros, pedagoga e mestre em Estudos Linguísticos pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA, que desenvolveu pesquisa sobre políticas linguísticas indígena. E, ainda, a professora Marília Ferreira, pesquisadora da área de descrição de línguas indígenas.

Além disso, o programa tem o depoimento de Eliene Sacuena, da etnia Baré, doutoranda em Antropologia na concentração Bioantropologia, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA, e primeira aluna indígena formada em Biomedicina pela UFPA. No bate-papo, os convidados apresentam a relevância dos estudos sobre as línguas indígenas para a preservação, revitalização e promoção dos idiomas e, junto com eles, dos saberes acumulados há várias gerações em cada comunidade.

O professor Sidney Facundes assinala o fato da Amazônia possuir uma diversidade muito grande não só em números, mas na história dos grupos indígenas e suas origens e ratifica que o desaparecimento das línguas indígenas não geram prejuízos apenas linguísticos. “Diante dessa grande diversidade, o risco ele é muito grande porque na maior parte das comunidades indígenas, em geral, poucos falam a língua. Desses, a maior parte são as pessoas mais idosas. E na maior parte dos casos a língua não está sendo transmitida para os mais jovens. Isso quer dizer o seguinte: quando essas pessoas mais idosas desaparecerem, não haverá falantes. E com a língua se vai uma história, se vai uma diversidade intelectual, maneiras de ver o mundo, conhecimentos de gerações que foram acumulados. Nós herdamos alguns desses conhecimentos na nossa cultura brasileira, mas há muitos outros que nós desconhecemos e que podem desaparecer com essas línguas”, analisa o professor.

A professora Marília Ferreira levanta a questão do desuso das línguas indígenas, por exemplo, na escolarização como fator que contribui para a situação de estresse linguístico em que essas línguas se encontram. “São línguas que não têm um lugar de destaque, por exemplo, na escolarização. São línguas que têm um papel social e político muito pequeno. E isso faz com que elas não sejam elementos, instrumentos de que esse indivíduo indígena que fala essa língua, ele tenha alguma ascensão social. Então isso dá um caráter “menor” nesse sentido, de que já que ele não vai usar, ele se pergunta mesmo “pra quê que eu vou continuar falando?”, expõe a linguista que também revela a existência de um movimento de resistência por parte dos indígenas, por meio do qual a educação dos indígenas vem se reconfigurando, ainda que lentamente.

No campo das políticas linguísticas, Jeanne Barros aponta que a valorização das línguas indígenas é recente e que seus avanços são fruto da luta dos próprios indígenas, de sua organização e do surgimento de organizações não governamentais que lutam em favor das causas indígenas. “Se observamos na história, nós temos muitos e muitos anos de enfraquecimento das línguas e culturas indígenas, em relação a poucos anos de valorização das culturas indígenas. A luta ainda é muito recente e tem muito a se fazer em relação a atuação ao protagonismo desses povos na condução dos seus processos escolares. A escola para os povos indígenas é lugar de sobrevivência. E ao longo da história ela tomou diversos significados. Existem casos de escola em que já estão em um movimento avançado no processo de construção de uma educação bilíngue, no entanto, existem muitas escolas que ainda obedecem currículos e políticas que não observam, não dão importância à cultura indígena”, ressalta a pedagoga.

Em depoimento para programa, a indígena Eliene Putira Sacuena relata as dificuldades enfrentadas pelos discentes indígenas, no que diz respeito ao uso das línguas originárias no ambiente acadêmico.
“A língua é vista como algo de muita importância para a nossa identidade como indígenas. Preservar essas línguas é uma forma de resistência. No contexto acadêmico, só a nível de pesquisa há projetos, por meio de linguistas que fazem projetos, porém para nós, enquanto povos indígenas, temos apenas esse ano uma prática, devida à comemoração do ano internacional das línguas indígenas, onde todo mês há palestras sobre alguma língua. Nós somos 34 povos indígenas dentro da UFPA, só aí já existe uma diversidade de línguas. As dificuldades são imensas. Enquanto indígenas, a gente vem discutindo construir um diálogo para que pudesse defender os trabalhos acadêmicos na língua. A Unifesspa já teve defesa na língua, a Ufopa. E é algo que a gente vem buscando, principalmente nesse ano internacional das línguas indígenas”, relata a pesquisadora.

O UFPA Ensino também destaca a programação do Seminário Bienal do Grupo de Estudos sobre Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia (GELCIA), que este ano ocorre com o Simpósio de Pesquisa em Línguas Indígenas – Região Norte (SIPLI – NORTE). O evento, que tem como tema “Ano Internacional das Línguas Indígenas: descrição, documentação, educação escolar e políticas linguísticas”, será realizado no período de 18 a 23 de novembro, no campus Belém da Universidade Federal do Pará.

Para saber mais não perca esta edição do UFPA Ensino sobre o Ano Internacional das Línguas Indígenas.

Apresentação: Fabrício Queiroz
Produção e roteiro: Susan Santiago
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira
Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz

O UFPA Ensino vai ao ar às quartas-feiras, às 10h e 21h.
Horários alternativos: Sexta-feira, às 19h, e sábado, às 21h.

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