Independência no Pará

Oficialmente, no dia 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I declarou que o Brasil não era mais colônia de Portugal, com a famosa frase “independência ou morte”. Mas no então estado Grão Pará e Rio Negro, atual região Norte do Brasil, o clima era de insegurança e dúvida sobre aderir ou não a independência do País. Uma situação provocada especialmente pela realidade econômica local da época, como explica o historiador José Alves Júnior.

“Havia uma ligação muito estreita entre os negociantes do Pará e a metrópole portuguesa. Na verdade, Lisboa era a porta de acesso que os comerciantes do Pará tinham para colocar seus produtos direto no mercado europeu. E os negócios no Pará sofreram um impacto muito forte quando houve a invasão napoleônica em Portugal, o que forçou a transferência da corte para o Rio de Janeiro”.

O professor José Alves afirma ainda que quando o Rio de Janeiro se tornou a sede da coroa portuguesa, logo as ordens que emanaram para o império português não saíram mais de Lisboa. “E isso, obviamente, para o Pará em termos econômicos foi muito negativo porque os comerciantes perderam o acesso que tinham ao mercado europeu. Enquanto uma outra facção de negociantes aproveitava as oportunidades que foram abertas com a conquista de Caiena pelas tropas portuguesas que saíram para o Pará”, destaca José Alves Júnior.

Além dessa questão, os investimentos da corte portuguesa na Amazônia, especialmente no final do século 18, contribuíram para a resistência dos paraenses à Independência do Brasil. E a imprensa do Estado foi essencial nesse processo, com destaque para o pioneiro jornal “O Paraense”, que tinha à frente Felipe Patroni, um jovem recém-chegado de Portugal e que, ao contrário dos que muitos pensam, pouco contribuiu para a adesão do Pará à independência, como destaca o pesquisador Geraldo Mártires Coelho.

“Eu consegui em Lisboa reunir quase a totalidade das edições do jornal “O Paraense”, que começou a circular em 22 de maio de 1822. E pelo menos até o número em que o Felipe Patroni era o redator o que ele discutia era a questão, digamos, doutrinária, questão do liberalismo, o combate à tirania. Ou seja, você não encontrava nada que não fosse um combate ao poder e ao autoritarismo dos militares portugueses, tudo que atrapalhava a vida social e econômica das elites locais. Mas não tem a palavra independência porque para eles era muito interessante continuar ligado à Lisboa, era para onde corria o dinheiro, para onde corria o comércio”.

Nesse contexto de resistência à independência do Brasil, no Grão Pará e Rio Negro, as tensões cresciam e a estratégia portuguesa era controlar os portos e obrigar as forças imperiais a recuarem. O conflito maior ocorreu na Cisplatina, atual território do Uruguai, onde o exército imperial contou com a ajuda de militares britânicos. Um deles, Thomas Cochrane estabeleceu bloqueio naval em Salvador e em São Luís, o que forçou a rendição lusitana.

Para o Pará, foi enviado um navio com o tenente John Grenfill, que, por blefe, ameaçava bombardear a cidade. Assim, a história oficial conta que no dia 15 de agosto de 1823, quase um ano depois do grito de independência ou morte de Dom Pedro I, Dom Romualdo Coelho, então presidente da junta governativa formada no Pará, declarou a adesão do Estado à Independência do Brasil, sendo a última província a se integrar ao império brasileiro.

Uma história contada em um programa especial produzido pela Rádio Web UFPA em 2013, quando o Pará celebrou 190 anos da adesão à independência do Brasil. Além dos historiadores José Alves Júnior e Geraldo Mártires Coelho, no radiodocumentário, os professores Magda Ricci e Agenor Sarraf nos revelam detalhes desse processo permeado de tensões e conflitos que se agravaram após a Adesão do Pará à independência, já que a mudança não melhorou as condições econômicas e sociais da população.

Uma história que, segundo a professora Magda Ricci, formou uma base que ajudou a construir uma nação mais equilibrada e que se reflete ainda no presente diante da busca por uma sociedade cada vez mais justa. Uma história importante para que –  neste bicentenário da independência do Brasil – paraenses, nortistas e amazônidas tenham sempre na memória e que possam assim compreender o mundo atual e garantir um futuro cada vez melhor.   

Para acompanhar e refletir sobre a história e seus reflexos na atualidade, não perca a re-exibição do radiodocumentário Independência no Pará. O programa vai ao ar esta semana, excepcionalmente, nos horários do UFPA Ensino, às quartas-feiras, às 11h, com reprise às sextas-feiras, às 20h.   

              

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