A emoção do público e homenagens ao ex-presidente Lula marcaram a primeira aula do curso O golpe de 2016 e o Futuro da democracia no Brasil. Realizada no auditório Benedito Nunes, na UFPA, a aula estava marcada para às 17 horas, da última sexta-feira, 06 de abril. Apesar de não ter sido proposital, a data e o horário eram os mesmos determinados pelo juiz Sérgio Moro para que o ex-presidente Lula se apresentasse à Polícia Federal. O fato gerou comoção entre os presentes, pessoas como a professora do Instituto de Ciências Biológicas, Isabel Cabral. Antes da aula, ela comentou as expectativas em relação ao curso.
“Coincidentemente ser hoje, exatamente hoje, às 17 horas é muito forte, é até emocionante(…). Na verdade eu queria que o curso ele atingisse um público que não vai estar aqui, infelizmente. O público que tá aqui praticamente todo tem consciência de que foi um golpe e a gente só vai ver as discussões sistematizadas do ponto de vista da academia, mas a grande massa que não acredita que foi um golpe e que tá vibrando lá fora não vai tá aqui, infelizmente. Mas eu tenho expectativa sim, de aumento de conteúdo acadêmico pra percepção dos fatos”.
A iniciativa também agradou estudantes de vários cursos, como Joelma Ferreira, do 7º semestre de geografia e militante da Frente Povo Sem Medo. Para Joelma, o momento político atual coloca em risco os direitos já conquistados, daí a importância de refletir sobre o contexto.
“A proposta do Curso é uma excelente ideia frente a conjuntura nacional política, juridico-política, que a gente está enfrentando, se faz necessária. Primeiro porque nunca foi tão necessário discutir a Constituição, o que ela preconiza, os nossos direitos e deveres. Segundo porque é uma resposta a esse governo golpista que tenta de todas as formas limar todas possibilidades da democracia sobreviver nesse governo”.
A professora Sandra Cruz, da Faculdade de Serviço Social da UFPA, faz parte do grupo de mais de 50 professores que se uniram para criar o Curso Livre. Para Sandra, além do caráter formativo, o curso também é uma posição política de resistência.
“A gente espera que os alunos, os jovens, os estudantes realmente, inclusive de fora da Universidade aproveitem, mas é também uma posição política que a gente tá tomando frente ao autoritarismo desse governo que quer interferir na autonomia das universidades e da sociedade de uma maneira geral das organizações políticas e sociais desse país”.
Na seção de abertura, o Reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Tourinho também fez questão de reconhecer e agradecer ao ex-presidente Lula, a atenção destinada à educação pública, de modo especial às universidades. O Reitor lembrou que há cerca de 15 anos, a UFPA tinha metade dos alunos que têm hoje e era bem menos diversa. Hoje, indígenas e quilombolas fazem parte do quadro discente da instituição. Emmanuel destacou a missão árdua que o curso O Golpe de 2016 e o Futuro da democracia no Brasil vai ter pela frente, a de contar às novas gerações sobre os anos de fortalecimento da democracia e seu atual enfraquecimento. Segundo o reitor, esta também é a responsabilidade de uma universidade pública.
“Eu espero que nós todos saiamos daqui muito mais estimulados e cada aula deste curso fortaleça pra cada aluno, cada professor, cada técnico, a vontade de lutar pela democracia desse país, a vontade de lutar por justiça, por inclusão e por igualdade. A vontade de lutar pelo respeito aos direitos de todos os cidadãos. Viva à universidade pública, viva à democracia e vida longa ao presidente Lula!”
Após o pronunciamento do Reitor, para um auditório lotado, a professora Zélia Amador apresentou a ementa do curso, os temas e os professores que vão dar as aulas todas as sextas até novembro. Em seguida, a professora fez uma rápida introdução sobre as origens dos golpes na América e na Europa e encerrou a aula, abrindo espaço para a manifestação da Frente Brasil Popular, que convocou os participantes para um protesto que ocorreu em São Bráz.
Enquanto os organizadores da manifestação ainda conversavam com o público. A professora do Instituto de Ciências Biológicas, Isabel Cabral, a mesma que entrevistamos antes da aula, fez questão de falar novamente para dizer sua nova expectativa com o curso. “A minha expectativa com este curso é que reacenda a esperança num Brasil realmente democrático”, desejou.
A mesma esperança levou centenas de pessoas à Praça Floriano Peixoto, em São Bráz. Após assistir a primeira aula do curso, o estudante de Mestrado em Antropologia Vinicius Machado atendeu o convite e seguiu para o protesto que ocorreu mesmo sob forte chuva.
“É um ato em defesa da democracia, é uma manifestação política de ocupar um espaço que é nosso por direito que é a rua, o espaço público que é um espaço onde a gente pode colocar as nossas reivindicações, as nossas manifestações, apresentar as contradições que existem, nesse caso são as contradições que o judiciário vem mostrando dentro desse julgamento arbitrário que tem uma característica seletiva, que ataca diretamente os interesses da classe trabalhadora brasileira. E ir pra rua é importante pra fazer o enfrentamento contra essa postura da justiça brasileira”
Devido ao ato, a discussão sobre o que é o Golpe continua na próxima sexta-feira. O Curso é uma iniciativa de mais de 50 professores da Universidade Federal do Pará, sob a coordenação da professora Zélia Amador. A próxima aula também deve abordar o tema: Comparação entre o golpe de 1964 e o golpe de 2016: Governos de esquerda e golpes na América Latina. Os professores de História, Pere Petit e Edilza Fontes estão responsáveis por esta aula, marcada para o dia 13 de abril, no auditório do ITEC na UFPA, às 17 h. Mudanças de locais podem ocorrer, mas vão ser informadas na página do curso no Facebook.
Texto e foto: Erlane Santos