Paulo Fonteles, sem ponto final é retrato ampliado de uma geração que resistiu à ditadura civil-militar e lutou pela democracia no Pará e no Brasil.
A vida de Paulo Fonteles, assassinado por pistoleiros contratados por um consórcio do crime no Pará, é quase um resumo da aventura de uma geração que lutou contra a ditadura civil-militar no Brasil a partir de 1964. Militante estudantil com ativa participação no mítico ano de 1968, integrante da organização Ação Popular, Fonteles entrou para a clandestinidade na virada dos anos 1970, foi preso pelos agentes da repressão junto com a companheira e passou pelos horrores da tortura nos porões do Exército.
Condenado num julgamento farsesco Paulo Fonteles passou mais de um ano na prisão, de onde saiu para voltar às salas de aula, se formar como advogado, criar a Sociedade Paraense de Direitos Humanos. No sul do Pará ajudou a dar sustentação jurídica a recém-criada Comissão Pastoral da Terra, obtendo as primeiras vitórias judiciais em favor de colonos contra latifundiários.
Não satisfeito, organizou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de pelo menos três novos municípios que surgiam no Pará no inicio dos anos 1980. Já militante do PCdoB, concorreu para as primeiras eleições diretas em 1982 para deputado e governo do estado, sendo eleito deputado estadual pelo PMDB. Ativo crítico das ações de pistolagem e violência contra colonos e camponeses, tornou-se figura marcada. Ao perder a disputa para deputado constituinte em 1986, virou cabra marcado para morrer. Foi assassinado em 11 de julho de 1987. Tinha 38 anos, mas parecia ter vivido mil existências.
E é essa trajetória que o livro ‘Paulo Fonteles, sem ponto final’ conta em quase 300 páginas, recheadas de imagens de documentos e fotos de época. Escrito pelo jornalista e roteirista paraense Ismael Machado- vencedor de importantes prêmios jornalísticos como Vladimir Herzog e Líbero Badaró-, e com projeto gráfico e arte de Paulo Emmanuel, o livro dimensiona de forma ampla a importância de Fonteles para a história da resistência à ditadura entre uma parcela de estudantes e militantes políticos no Pará, entre os anos 60-80 do século passado. A obra será lançada no próximo dia 10 de abril na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA) em Belém, a partir das 19h.
O livro é uma ação conjunta do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos, Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi. E surgiu graças a uma iniciativa do filho mais velho de Fonteles. Nascido na prisão e sobrevivente a sessões de torturas sofridas pela mãe Hecilda Veiga, Paulo Fonteles Filho sempre foi um entusiasta defensor da memória do pai, tendo chamado o jornalista Ismael Machado para contar de forma ampla a trajetória do pai. Machado e Paulinho, como Fonteles Filho era conhecido, chegaram a percorrer sete municípios do sul e sudeste do Pará visando recolher histórias de quem havia conhecido e militado ao lado de Paulo Fonteles nas décadas de 1970-1980.
Resultado de mais de 50 entrevistas e uma ampla pesquisa em arquivos deixados por Paulo Fonteles, que estão sob os cuidados da historiadora Leila Mourão e uma grande pesquisa bibliográfica, ‘Paulo Fonteles, sem ponto final’ é mais que a biografia de um personagem histórico. É um passeio pela história recente do Brasil, do golpe militar, da tortura e censura, da grilagem de terra, da resistência e criação de grupos voltados aos direitos humanos e da abertura política do país, com a legalização da UNE e do PCdoB. Tudo sob a ótica do Pará, palco, entre outras coisas, da Guerrilha do Araguaia e de inúmeros casos de pistolagem.
Depois de Belém, estão previstos lançamentos do livro em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
SERVIÇO:
Lançamento do Livro “Paulo Fonteles, sem ponto final”
Local: Sede da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará, Praça Barão do Rio Branco, nº 92 – Campina – Belém.
Dia 10 de abril, a partir das 19h.
Texto: Divulgação