Um cortejo de arte, cultura popular e diversidade celebrou a trajetória de Zélia Amador de Deus, que recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Pará. Reconhecida pelo trabalho como dramaturga e pesquisadora no campo das artes, Zélia Amador é professora da UFPA desde 1978, onde já ministrou disciplinas como História da Arte, Estética e História e Teoria do Teatro.
Além disso, é uma figura importante nos movimentos sociais e políticos. No início dos anos 1980, ajudou a fundar o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), organização dedicada a combater o racismo, o preconceito, a discriminação e as desigualdades que afetam principalmente a população negra e indígena. Para o reitor da Universidade, Emmanuel Tourinho, essas e outras contribuições para a produção de conhecimento e a sociedade justificam a homenagem à professora.
”Ao homenagear a professora Zélia nós estamos celebrando toda a sua trajetória como acadêmica, como militante dentro da Universidade Federal do Pará, mas estamos ao mesmo tempo homenageando as causas que ela sempre tem defendido, sobretudo sua luta por inclusão, uma luta por uma universidade que recepcione alunos de todas as origens, por uma sociedade que respeite os direitos de todas as pessoas. A professora Zélia é uma grande construtora da Universidade Federal do Pará, é uma grande responsável por muito do que nós conseguimos avançar na nossa instituição tanto academicamente quanto em termos de política de inclusão”, declarou o reitor.
Diversidade – Na cerimônia de outorga do título, um grupo composto por professores negros da UFPA, integrantes do Cedenpa, da Casa Brasil-África, dos povos indígenas, quilombolas e estrangeiros estudantes da UFPA conduziu a docente até o palco do Centro de Eventos Benedito Nunes.
Uma das homenagens foi do coro cênico Elegbara, formado por atores da Escola de Teatro e Dança e coordenado pela professora Lúcia Uchôa, da Escola de Música da UFPA. “Pra universidade é um marco inesquecível, inédito e inesquecível, uma professora negra, batalhadora que todos nós sabemos, inteligente, maravilhosa receber o título de professora emérita da universidade federal. Então nós todos viemos com muita alegria, com muita felicidade, com muita positividade pra unir essa vitória junto a professora Zélia Amador”, disse a professora que criou o coro em 2014 justamente para homenagear Zélia Amador durante a realização do Congresso de Pesquisadores Negros em Belém.
Ao longo de mais de 40 anos de atividades, Zélia Amador também atuou em prol de diversas ações perenes na UFPA. Uma delas foi a idealização do Auto do Círio, cortejo que ocupa as ruas do bairro da Cidade Velha no período do Círio de Nazaré com uma mostra de arte, fé e cultura popular.
“A minha fala foi no sentido de que a Zélia espalhou estrelas na vida da gente, do país, da região e da universidade. Uma dessas estrelas mais cintilantes pra mim como encenador, como artista da universidade é o Auto do Círio. É um projeto concebido pela Zélia justamente pra colocar o teatro na rua, o teatro para as multidões, o teatro pro povo”, disse o professor Miguel Santa Brígida, diretor de arte e cultura da Pró-reitoria de Extensão e que já dirigiu diversas edições do espetáculo.
Lutas sociais – Outra marca do trabalho da professora Zélia é a defesa da inclusão para que a universidade reflita a realidade social da Amazônia. A atuação acadêmica e política de organizações como o Cedenpa e o do Grupo de Estudos Afro-Amazônico (GEAM) ajudou a mudar isso. O professor do departamento de Ciência Política, Raimundo Jorge comentou sobre as conquistas que mudaram a cara da UFPA.
“A professora Zélia tá conosco desde a fundação do GEAM. a nossa ideia quando nós criamos o GEAM era fazer um grupo que fosse uma interface entre a universidade e o movimento negro porque a universidade tem que ser parte da sociedade e o que é que nós percebíamos: que aqui na universidade ainda havia muito pouca presença e participação da população negra (…) O GEAM propôs a política de cotas, a casa Brasil-África, a assessoria de diversidade, ou seja, a Zélia, enquanto parte do GEAM, ela, portanto, participou de todas essas construções. Mas a Zélia tem um trabalho para além do GEAM e a Universidade reconhece isso”, comemorou o professor.
O discurso de Zélia Amador falou da satisfação pessoal, mas foi em grande parte dedicado ao coletivo que se vê representado nela. Celebrou a arte, a cultura negra, a afroreligiosidade, os povos tradicionais e dividiu com essas comunidades o título de professora emérita. “É coletivo porque não é só meu. Ele é do movimento negro, ele é dos quilombolas, ele é dos indígenas, ele é de todas as parceiras e os parceiros que eu encontrei nessa universidade pra lutar. Ele é, inclusive, também dos artistas, ele é do Grupo de Estudos Afro-Amazônico, que ajuda a enegrecer essa universidade no cotidiano”, dedicou a homenageada.
Zélia Amador de Deus possui graduação em licenciatura plena em Língua Portuguesa, especialização em Teoria Literária, metrado em Estudos Literários e doutorado em Ciências Sociais. Ela já foi vice-reitora, de 1993 a 1997, e atualmente ocupa o cargo de assessora da diversidade e inclusão social da UFPA. É a primeira docente negra e a segunda da área de artes a receber o título que reconhece as contribuições para o ensino, a pesquisa e a extensão que transformam a universidade e a sociedade.
Texto: Fabrício Queiroz
Fotos: Alexandre de Moraes / Ascom UFPA