A região Amazônica tem uma vasta extensão territorial, é rica em biodiversidade, e, além de tudo, cheia de histórias pra contar. Muitas dessas narrativas são tradicionalmente passadas pela oralidade, mas também precisam ser ouvidas, documentadas e preservadas. É com esse objetivo que atua o projeto O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP) que desde 1994 criando um grande acervo com mais de cinco mil narrativas.
Para conversar mais sobre esse projeto, convidamos ao nosso estúdio a criadora do projeto, professora Dra. Socorro Simões; Matheus Botelho, coordenador geral e co-fundador da produtora Na Cuia, e a estudante Caroline Nogueira, bolsista do projeto.
O IFNOPAP surge a partir do descontentamento da professora, Socorro Simões, que, durante uma aula da pós-graduação sobre mitos greco-romanos, percebeu que não se estudava os mitos da nossa região. “Eu, amazônida, nascida em Manaus, me dei conta de que eu não conhecia os mitos da Amazônia. E aquilo ficou martelando a minha cabeça e daí, eu coordenadora da pós, fiz a proposta de fazer a recolha dos mitos da Amazônia e, a partir daí, aconteceu o IFNOPAP”, relembra a professora Socorro Simões.
A pesquisa começou em Belém e se espalhou por todos os municípios do estado. “Nós temos cerca de 5.300 narrativas recolhidas, e continuamos recolhendo, e já sedimentou 34 dissertações de mestrado e oito teses de doutorado. Convido aos ouvintes a pesquisarem por IFNOPAP no YouTube e vão encontrar os documentários. O curta-metragem ‘Matinta’, estrelado por Dira Paes, foi inspirado pelo IFNOPAP, assim como ‘A Moça no Táxi’ com a narração de Walter Bandeira também teve inspiração pelo projeto”, conta a pesquisadora.
A divulgação desse rico acervo e da memória da tradição oral amazônica levou o projeto a criar novas iniciativas. Em parceria com a produtora cultural Na Cuia, foi produzido o documentário “Uma Nascente de Histórias” que conta a trajetória do projeto que completou 25 anos em 2019. “A Na Cuia é um projeto que nasceu dentro da graduação, dentro de um movimento independente que a gente queria falar de cultura da forma como a gente vivencia ela, e não como a gente via nos jornais e na mídia local hegemônica.”, relata Matheus Botelho.
Recentemente, a parceria levou à criação do Conto Ribeirinho, que resgata o material já registrado pelo IFNOPAP e o atualiza no formato de podcasts que pode ser acompanhado na programação da Rádio Web UFPA e em plataformas de streaming.
“Nesses dois anos de graduação, eu nunca pensei que fosse ter contato com esse tipo de pesquisa em específico. Nós, da comunicação, temos todo esse aparato técnico de pegar todas as informações e oralidades e transformar num produto que as pessoas possam visualizar de uma outra forma. E fazer essa transformação é muito gratificante. Apesar de ser um assunto muito em voga, poucas pessoas sabem desse lado da nossa cultura. A gente tá muito acostumado a consumir o que vem de fora, mas quando a gente consome o que vem daqui é muito especial e importante porque isso fortalece ainda mais nosso pensamento enquanto cultura local”, afirma a estudante e bolsista Caroline Nogueira
* Este programa foi gravado no estúdio em fevereiro de 2020, antes das medidas de isolamento social entrarem em vigor.
Para conhecer ainda mais sobre o projeto IFNOPAP, não perca esta edição do UFPA Comunidade!
Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Victor Lorran
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira
Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz
Foto: Acervo IFNOPAP
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