“Uma imagem vale mais que mil palavras”, já dizia o filósofo e imperador chinês Confúcio. Mas o que dizer da imagem de frágil, dona de casa ou objeto sexual que a publicidade e propaganda atribuem à mulher? Para refletir sobre o tema, o UFPA Debate convidou o professor e doutor em Comunicação Social da Universidade Federal do Pará, Otacílio Amaral Filho, e a publicitária, blogueira e ativista do movimento feminista Thiane Barros.
A construção do estereótipo feminino, segundo Otacílio, não está alicerçada apenas na exposição da mulher na mídia, mas no comportamento dela diante das relações que envolvem o íntimo, o público e o privado. Para ele, é o papel de mulher empoderada que incomoda a sociedade, resultando num processo de distorção desse conceito. “A autoestima, beleza, o estar representada e o posicionamento feminino da mulher na sociedade – essa imagem é muito mais forte do que aquela de negação”, afirma.
O professor ressalta que a publicidade ainda é viciada e se vale da pesquisa de mercado para estabelecer padrões, porém a confunde com a pesquisa de consumo, instituindo, assim, uma perspectiva de modelo vendável. A educação e o enfrentamento, explica o professor, são pontos-chave para desconstruir o que sempre deu certo nas criações publicitárias. “A intencionalidade da publicidade só pode ser enfrentada pelo contraponto da emancipação”, defende Otacílio.
Para a publicitária Thiane Barros, o modelo de sociedade patriarcal influencia a reprodução midiática da imagem da mulher enquanto objeto de consumo e não consumidora. Defende ainda que a publicidade deve estabelecer as próprias rupturas, mas o processo é lento e trabalhoso, já que nasce da vontade de cada profissional mudar a própria concepção. “Mesmo quando a publicidade propõe a desconstrução, é um olhar pelo buraco da fechadura, é o homem falando o que ele acha que a mulher deve falar e pensar”.
Thiane também faz críticas à atuação do Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (CONAR). Em 2014, a Agência Pública apontou que, das 18 denúncias de machismo em propaganda recebidas naquele ano pelo Conselho, 17 foram arquivadas, e apenas uma terminou com um pedido de suspensão e advertência da agência que realizou a campanha. As peças publicitárias, de acordo com o CONAR, são humorísticas e não machistas. “Se o Conselho que regulamenta a área (publicitária) não reconhece as falácias do discurso, a quem a gente vai questionar?”, indaga Thiane.