Na última edição do UFPA Entrevista Especial Eleições 2020, abordamos os principais desafios e problemas a serem enfrentados pelos futuros prefeitos paraenses na área da Educação. Para analisar o contexto educacional dos municípios, entrevistamos Lília Melo, professora da Escola Estadual Brigadeiro Fontenele, no bairro da Terra Firme; ganhadora do prêmio do MEC “Professores do Brasil” na categoria Ensino Médio, no ano de 2018.
A professora destaca a importância de refletir acerca da educação nesse período pandêmico, em especial com relação a alguns pontos que serão determinantes, como a relação entre escola e comunidade, a qual classifica como uma nova concepção acerca da educação. “A pandemia veio nos mostrar a importância de se reconhecer, principalmente em regiões periféricas, a escola como um suporte, um apoio, um acolhimento. Porque é muito complicado, nesse momento, a gente colocar conteúdo programático e período letivo mais importante ou à frente do sentido da vida”, avaliou Lilia Melo.
Nesse sentido, a professora aponta entre as urgências para a Educação, a necessidade de mudar a concepção acerca da escola e da própria educação. Outro aspecto destacado é a necessidade de articulação da escola com a comunidade, aliando conteúdos programáticos aos saberes populares, para reconhecer e valorizar a identidade sociocultural dos territórios de que as escolas fazem parte e possibilitar que articulem soluções coletivas para as demandas da comunidade.
“Uma escola, em uma concepção inovadora e libertadora, não deveria nem ter muro e as suas ações jamais deveriam ser do muro para dentro. Nós precisamos dissolver os muros, os de concreto e os ideológicos, para que possamos encontrar formas de autossutentabilidade para as comunidades”, ponderou a docente,
Também nesse sentido a professora destaca que ações coletivas feitas nas periferias, como por exemplo as bibliotecas comunitárias, deveriam ter suporte e articulação com as prefeituras, secretarias e os planos de governo. Enquanto projetos que dão certo, vindos da comunidade e que consolidam uma sensação de pertencimento.
“Às vezes uma escola municipal não tem biblioteca. E quando tem, não tem uma infraestrutura para receber o seu público. Muitas vezes uma escola municipal não tem biblioteca, mas está do lado de uma biblioteca comunitária, que tem todo um serviço com formação de leitor, contação de história, intervenção literária. Por que não utilizar, também, as bibliotecas comunitárias como um suporte também da escola?”, questionou a professora.
Outro problema da educação nos municípios avaliado pela professora foi a falta de vagas na educação infantil, tanto nas creches quanto nas escolas, questão que reflete na vida das famílias para além da questão pedagógica, haja vista que mães, pais e responsáveis de crianças contam com o período escolar para cumprir sua carga horária de trabalho.
Por fim, Lilian Melo fez considerações sobre o projeto “Escola com supervisão militar”, que opera por meio de convênio entre Prefeitura e Polícia Militar e seus possíveis impactos no ensino-aprendizado e nas relações educacionais nas escolas públicas paraenses. A professora contrapôs o projeto ao coordenado por ela na Escola Brigadeiro Fontenele, intitulado “Juventude preta, do extermínio ao protagonismo”, que refere como uma memória viva acerca do extermínio e suas marcas de sangue, medo, dor e luto. Desse modo, Lilian avalia que é possível estabelecer novas relações e diálogos, com respeito à identidade sociocultural e à história de vida das comunidades. Não por imposição ou força, mas construindo a mudança pela relação humana e a afetividade.
“Sem infraestrutura a gente já consegue, com infraestrutura, é possível conseguir muito mais. Infelizmente, a memória que se tem da ação policial e das intervenções dessa guerra de poder que tem entre tráfico e policiais milicianos, e toda essa história que a gente já conhece, que já foi documentada, que já foi publicada, é uma história que se viveu no passado. O que a gente espera? Espera que não se viva mais isso”, declarou.
Para ouvir na íntegra a análise da professora Lilian acerca da Educação e os desafios para as novas gestões municipais, acompanhe esta entrevista da série especial Eleições 2020 do UFPA Entrevista, que será exibida, excepcionalmente nos horários do UFPA Ensino.
Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Áurea Garcia
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira
Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz
O programa UFPA Entrevista Especial Eleições 2020 com o tema Educação será exibido na quarta-feira, às 10h e 21h; na sexta-feira, às 19h; e no sábado, às 22h.