Produções artísticas, literárias e audiovisuais na escola

O que você deseja para 2019? Inclusão social, respeito, igualdade racial, justiça, amor e paz, certamente estão no topo de lista de muitas pessoas. Para estudantes e professores de três escolas públicas na grande Belém não é diferente. Durante o ano de 2018, em sala de aula e fora dela, esses temas ganharam a forma de livros, documentários e selos. Cada produção é um recorte sensível e criativo da realidade na qual essas escolas estão inseridas.

Para conhecer essas iniciativas, o programa UFPA Ensino discute o tema Produções literárias, artísticas e audiovisuais na escola.  Recebemos a vice-diretora Rosângela Cardoso e a professora Carla Sampaio, representantes da Escola Estadual Bento XV, para falar do projeto “Histórias de Crianças: convivendo com as diferenças”. A professora Andréia Santos e o estudante Marcos Alejandro Santana, ambos da Escola Liceu Mestre Raimundo Cardoso, compartilham a experiência do projeto “Selo”.  A estudante Vitória Castelhano, da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, aborda o projeto “Cine Clube TF”, coordenado pela professora Lília Melo.

A preocupação com os alunos que tinham alguma deficiência mobilizou a direção da escola Bento XV junto com a equipe de professores. Por acreditar que a inclusão precisa começar cedo, o trabalho envolveu todos os 360 alunos do ensino fundamental. “A gente acredita que é a inclusão ela tem que começar na base, acolhendo e incluindo. Assim, a gente evita transtornos no processo pedagógico de aprendizado, os bullyings da vida. Então, incluir é acolher, é amar, é respeitar. E por que não dizer, ter esperança? Porque a gente precisa ter esperança nesse processo para que as coisas possam mudar”, destaca a vice-diretora e coordenadora do projeto Rosângela Cardoso.

O trabalho da professora de atendimento educacional especializado Carla Sampaio foi fundamental no processo. A profissional destaca que a compreensão de que a aprendizagem é de todos, alunos e professores, com deficiências ou não, permitiu que o projeto fosse acolhido pela comunidade. “Foi importante acolher essa aprendizagem diária e contribuir para que proposta chegasse aos alunos de uma forma agradável, lúdica e assim as crianças se sentissem à vontade para poder desenhar, pra poder escrever sobre o que aprenderam a partir das experiências que elas vivem diariamente no contexto da escola”, conclui a professora.

A professora Andreia Santos, do Liceu Mestre Raimundo Cardoso, afirma que trabalhar o tema paz na escola foi uma proposta da Secretaria Municipal de Educação. Como a escola completou 22 anos de existência em 2018, a professora teve a ideia de trabalhar por meio de selos os dois temas, a paz e o aniversário da escola. Com a dedicação e empenho dos professores e da direção, a escola conseguiu até uma parceria com o Correios e possibilitou uma visita técnica à agência.  A ideia encantou os alunos que puderam expressar sua visão sobre o tema. “Os alunos, através da arte e da pintura, mostraram nos selos que a violência está muito grande e para eles foi um despertar de como realmente devemos abraçar a questão da paz”.

Um dos alunos é o adolescente Marcos Alejandro Santana. Aos 12 anos, o menino que sonha em ser artista e valoriza a cultura produzida no distrito, se encantou pelo projeto logo que a professora Andréia Santos lançou o desafio em sala de aula. Em seu desenho, além de ressaltar que paz é responsabilidade das pessoas, fez questão de destacar os traços marajoaras tão presentes na cerâmica produzida no distrito. A inspiração para o selo que produziu veio de uma notícia triste, e também foi um apelo. “Eu moro em Icoaraci, e é um lugar legal de se viver, mas a gente vê mortes e assaltos. Então eu peguei esses desenhos marajoaras porque semanas atrás, em Icoaraci, mataram um artesão e foi muito triste. Então eu fiz esse desenho representando os artesãos porque eles também precisam de paz, assim como a gente”.

Quem também convive com a violência e se esforça para combater é a estudante Vitória Castelhano, da Escola Brigadeiro Fontenelle. A jovem fala com orgulho do projeto Cine Clube TF, que levou 400 alunos para assistir no cinema o filme Pantera Negra, graças a uma campanha feita nas redes sociais. A iniciativa e seu desdobramento com os alunos atuando na produção e exibição de documentários rendeu o prêmio do MEC Professores do Brasil à professora de Língua Portuguesa Lília Melo, que coordena o projeto.

Victória explica como os alunos foram impactados com duas chacinas no bairro, e como o projeto empoderou os jovens para diversas questões sociais, como o racismo, a violência, a cultura, e muitas outras. A estudante destaca que a iniciativa sofre resistência, mas continua porque é necessário romper com essa imagem estereotipada que se tem dos bairros periféricos, onde a violência sempre é o destaque. O documentário “É nós por nós”, produzido pelos próprios alunos, é resultado desse processo de empoderamento. “A gente acha muito importante produzir, porque quando sai na mídia sobre a periferia é só morte, assalto e violência. A gente quer mostrar justamente isso, que se a gente espremer um pouquinho não sai só sangue, sai cultura, sai poesia, sai arte, dança, música, e é isso que a gente está mostrando por aí”.

O programa conta ainda com os depoimentos dos alunos Renildo Rezende (Escola Brigadeiro Fontenelle), Maria Luiza Arnalde (Liceu Mestre Raimundo Cardoso) e com a leitura de um trecho do livro escrito pela estudante Lália Maia (Escola Bento XV).

Para saber mais sobre essas três iniciativas inspiradoras para a educação e para conhecer os resultados da inserção de produções literárias, artísticas e audiovisuais na escola ouça o programa UFPA Ensino.

Apresentação, produção e roteiro: Erlane Santos
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira e Lauro Feio
Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz
Foto: Cineclube TF / Profa. Lilia Melo

O UFPA Ensino vai ao ar às quartas-feiras, às 10h e 21h.
Horários alternativos: Sexta-feira, às 19h, e sábado, às 21h.

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