Encontro de Pesquisa em Comunicação na Amazônia (EPCA) traz pesquisadores e reúne estudantes para debater os rumos da política no Brasil. Evento será nos dias 21, 22 e 23 na UFPA, Unama e Sesc Boulevard.
As Eleições de 2018 foram um marco no cenário político brasileiro, que desde o fim da ditadura passava pelo período democrático mais longo já vivido na história do país. Mas, no atual momento chamado “ultra-neoliberalista” que estamos vivendo, se torna estratégico discutir política e democracia, contrapondo a um momento da escalada da violência política. Esse assunto é tema de uma das conferências do Encontro de Pesquisa em Comunicação na Amazônia (EPCA), que será realizado nos dias 21, 22 e 23 de novembro na UFPA, Unama e Sesc Boulevard, em Belém.
O EPCA é um evento organizado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM/UFPA) e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Linguagens e Cultura da UNAMA (PPGCLC/Unama) e tem o objetivo de unir diversos pesquisadores da região em um espaço de intercâmbio de conhecimentos e acolhimento, que contribua para a consolidação da pesquisa em comunicação. O encontro é aberto para a comunidade acadêmica, incluindo professores, estudantes, pesquisadores e demais interessados.
Para esta segunda edição, o tema escolhido foi “Comunicação, Sociedade, Tensões e Conflitos Contemporâneos”. Os trabalhos expostos no evento serão divididos em cinco grupos (GT): Comunicação e Socialidades; Comunicação e Política; Comunicação, Gênero e Sexualidades Plurais; Comunicação e Imagem; Comunicação e Narrativas do Contemporâneo. A conferência de abertura, no dia 21, traz o tema “Violência política, violência política sexista: a linguagem da desdemocratização”, que será proferida pela professora Dra Marlise Matos, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCP/UFMG).
“Parto de um ponto inicial que é a violência estrutural no Brasil, componente estrutural do regime capitalista e é um sistema hierárquico de classes sociais. Mas, a gente não pode e nem deve reduzir a violência as desigualdades. Violência é um processo lógico de sociedades latino americanas que estão imersas no que alguns autores nomeiam de ‘colonialidade do poder, do saber e do ser’. A ideia é tentar mostrar que as lutas políticas na história brasileira têm sido pela vida, pela democratização da vida, das instituições e mesmo da própria sociedade”, explica a professora Dra Marlise.
Desdemocratização
Em sua palestra, a professora vai alertar para os perigos de um fenômeno que chama de “desdemocratização”, quando a violência se transforma em uma linguagem que venha substituir a democracia. “É absolutamente necessário discutir política e democracia nesse momento da escalada da violência, que tem dimensão política, fundamentalmente, dimensão sexista, patriarcal, racial e LGBTfóbica, uma violência marcadamente de classe ou ódio de classe, ódio regionalista, tem muitas dimensões desse processo de constituição da violência como uma linguagem”, afirma.
Para a professora Marlise, a violência sexista, que começou a ficar clara depois da reeleição da presidenta Dilma, foi o primeiro alerta de que estávamos passando por um processo de desdemocratização política no Brasil. Em uma análise de material de mídia, a pesquisadora identificou mecanismos de violência política sexista. “Passam desde vinculação delas a figuras masculinas, secundarização, sua inferiorização e permanente referência à figura de outros homens, passando a esteriotipação do lugar da mulher como materna, como bruxas, como loucas, até situações mais graves. Entendo como fenômeno de início da escalada da violência política no Brasil. O ponto de culminância que é gravíssimo dessa trajetória é o feminicídio político de Mariele Franco”, detalha.
“Capas de jornal Le Monde falam da volta da violência política no Brasil. A gente tem o atentado contra o Bolsonaro. Notícias de vários organismos da mídia chamam atenção para a violência e acaba chegando em uma situação em que a Defensoria Pública da União indica a existência de 11 estados onde já tem observatórios da violência política. Já se espalhou, não só contra mulheres, LGBT, defensores de direitos humanos, indígenas, negros. A vida e a morte voltando a esse cenário como linguagem política que nomeio de desdemocratização no Brasil”.
“Atos de violência política não são perpetrados apenas contra aquelas pessoas específicas e que estão com risco de vulnerabilidade, mas são contra a voz pública, voz pública da democracia e da cidadania. Isso tem milhões de consequências que a gente precisa parar para pensar, as ações violência políticas restringem o trabalho da democracia. São formas claras controle, exclusão política, reduzem aquilo que na teoria chamamos de demodiversidade, pluralismo, diversidade inerente fundante do campo democrático”, afirma, ainda sobre os assuntos que vai abordar em sua palestra.
SERVIÇO
Encontro de Pesquisa em Comunicação na Amazônia 2018
Data: 21, 22 e 23 de novembro de 2018
Locais: Sesc Boulevard, Unama – Alcindo Cacela e Universidade Federal do Pará (UFPA)
E-mail: epcamazonia@gmail.com
Confira a programação completa no site: https://epcamazonia.com.
Texto e arte: Divulgação.