Cientistas brasileiros são protagonistas em documentário

Na cultura alimentar paraense, o açaí tem papel de destaque. O químico belga, professor da Universidade Federal do Pará, Hervé Rogez há 24 anos pesquisa o fruto. O trabalho já resultou em importantes descobertas. Mas o caminho trilhado pelo cientista nem sempre foi fácil. Por investigar um dos principais elementos da cultura regional, o pesquisador enfrentou forte resistência.

Em 2006, quando houve um surto da doença de Chagas em diversas cidades paraenses, entre elas, Barcarena e Cachoeira do Arari. Hervé Rogez foi um dos especialistas acionados pelo Ministério da Saúde para investigar as causas da proliferação. As pesquisas apontaram que a transmissão estava relacionada com o consumo de açaí, relembra Hervé Rogez.

“Teve uma repercussão obviamente bem negativa. Saber que o surto de Macapá e depois outro em Abaetetuba eram vinculados com certeza ao consumo de açaí. Eu mesmo no começo não acreditava que isso fosse possível. Mas é aquela coisa de cientista, a gente tem que reconhecer quando realmente há um problema e quando a ciência, colegas, no caso, lá do Evandro Chagas evidenciaram que era realmente o açaí o responsável”.

Histórias de cientistas como Hervé Rogez vão ser mostradas no documentário “Cientistas que ninguém quis ouvir”. A série documental está dividida em 13 episódios, de 26 minutos cada. Pesquisadores que tiveram teses questionadas ou rejeitadas e aceitas posteriomente vão falar sobre as experiências.

Além de Hervé Rogez, a série documental vai mostrar o trabalho de outros pesquisadores como João Paulo Barreto Tucano. Ele faz doutorado em antropologia e é o índio responsável pela criação do Centro de Medicina Indígena em Manaus.

Produção – O roteiro de ” Cientistas que ninguém quis ouvir” foi escrito pelo jornalista paraense Ismael Machado. Há dois anos ele deixou o trabalho em um jornal impresso de Belém e se lançou no mercado audiovisual. Sobre a produção e execução do roteiro, Ismael afirma que diferente dos documentários comuns, que possuem uma estrutura básica, a equipe optou por escrever um roteiro semelhante a um filme de ficção, com cenas bem detalhadas. O jornalista destaca ainda que as vezes é necessário contar com a sorte.

“No episódio sobre desmatamento, a gente começava com chuva, então, nós criamos uma chuva, a gente filmou, o Régis, diretor de fotografia, o cara que é um ‘bam bam bam’ em efeitos especiais. Ele criou uma chuva que ficou linda. E terminava com fogo, eu fiz um arco que era assim, começava na chuva e terminava no fogo, desmatamento. E a gente tava pensando como é que a gente vai criar esse fogo. Mas a gente tava lá em Curiaú, em Macapá, filmando outra situação. A gente passar por uma estrada tem um incêndio no descampado então a gente começou a filmar e pensamos ‘achamos o fogo’ e salvamos uma velhinha. A gente tava indo embora, aí vieram dois caras falaram ‘tem gente nessa barraca’. Uma barraca ia pegar fogo. O que eu digo assim, a gente acabou, o que não sabíamos o que fazer, acabou aparecendo o incêndio na nossa frente com essas proporções grandes e até perigosas”.

Para ouvir os pesquisadores, a equipe está percorrendo diversos estados brasileiros, como o Amazonas, Piauí, São Paulo, Goiás e outros. No Pará, além de Belém, a equipe também irá filmar em Colares. O município ficou conhecido por supostamente ter recebido visita de extraterrestres em 1977. Gravar em cidades amazônicas próximas da linha do Equador é um grande desafio por causa da luz. É o que afirma o diretor de fotografia Régis Robles:

“os desafios para a fotografia é dominar essa luz toda; Aqui tem muita luz, luz muito forte o tempo todo, tudo é muito contrastado, onde é claro é muito claro, onde é escuro é muito escuro. A gente faz muita externa, onde a gente não tem muito controle total”.

Além de questões técnicas, como iluminação e som, outros desafios estão relacionados ao custo amazônico de filmagem que costuma ser elevado por causa das particularidades da região. Quem conta é o

“Filmar em Belém tem umas particularidades, nós gravamos aqui um longa-metragem no mês de julho, agosto. E a escolha da câmera se deu por conta da umidade e do clima, não exatamente pela função estética dela. Na nossa escolha dos equipamentos, como a gente tá viajando por vários estados, a gente tem que tentar o máximo possível de qualidade técnica, de recursos possíveis, mas tem que ser equipamentos que sejam muito eficientes de energia, que consumam o mínimo possível e pesem o mínimo possível. A gente tem sempre que equilibrar essa matemática de peso, qualidade e consumo”.

Quando o documentário estiver pronto, as primeiras exibições vão ser de responsabilidade da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A expectativa é que isto ocorra no segundo semestre de 2018. Posteriormente, a equipe não descarta parcerias com outras plataformas. O professor Hervé Rogez destaca a importância da iniciativa.

“Eu acho que sempre é bom para toda a cadeia produtiva do açaí ter este tipo de reportagem porque tem uma repercussão nacional”, afirma.

A série documental “Cientistas que ninguém quis ouvir” foi uma das vencedoras do edital PRODAV 8, em 2015. O PRODAV é o programa de apoio ao desenvolvimento do audiovisual brasileiro e entre outras ações seleciona projetos a serem financiados e depois exibidos nas TV’s públicas.

A série “Cientistas que ninguém quis ouvir” e o trabalho de Ismael Machado na produção audiovisual já foram tema do programa Escurinho do Cinema, que pode ser ouvido neste link.

Texto: Erlane Santos

Foto: Hojo Rodrigues

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