Sociedade se mobiliza para salvar o Museu Emílio Goeldi Referência em pesquisa científica na Amazônia, o Museu Emílio Goeldi (MPEG) faz parte da memória afetiva da população paraense. Afinal, são mais de 150 anos de pioneirismo e valiosas contribuições para o país. Com diversos programas e projetos de pesquisa voltados para a biodiversidade, a cultura e as dinâmicas sociais da região, a Instituição possui um acervo com aproximadamente 4 milhões e meio de itens tombados. Um patrimônio que coloca o Emílio Goeldi entre as três principais instituições detentoras de coleções científicas do Brasil.
O publicitário Cleiton Borges, que trabalha há três anos no Parque Zoobotânico, ressalta a importância da instituição. “Depois que eu comecei a trabalhar aqui foi que eu comecei realmente a conhecer a história do Museu. A história do museu é muito importante. Por exemplo: foi através do Museu Emílio Goeldi que o Brasil conseguiu o território do Amapá. E mais, o Goeldi se
orgulha de ter tido as três primeiras funcionárias públicas do Brasil”.
Atualmente, funcionários e pesquisadores do MPEG lutam pela sobrevivência do espaço que sofre com o corte das verbas federais e pode fechar as portas em 2018. Uma realidade que preocupa pessoas como o comerciante Walter Imbiriba. Vizinho do Parque Zoobotânico que abriga uma mostra da fauna e flora amazônica e recebe uma média de 200 mil pessoas, por ano, Walter mantém viva as lembranças da infância. “O moço que bate fotografia nesses cavalinhos, eu cheguei com ele e disse: ‘há 65 anos atrás, eu tirei foto com 5 anos sentado neste cavalinho’. Faz parte da nossa cultura. Eles (os jovens) daqui a 50 anos vão trazer os netos aqui, isto se sobreviver daqui a 50 anos”.
Com atividades distribuídas entre pesquisa, comunicação científica e formação de recursos humanos, anualmente, o Emílio Goeldi oferta 200 bolsas para estudantes do ensino médio e fundamental, graduação e pós-graduação. Uma das bases de estudos é a Estação Científica Ferreira Penna que funciona na Floresta Nacional de Caxiuanã, no município de Melgaço, no Arquipélago do Marajó (PA). O objetivo é apoiar estudos sobre a sociobiodiversidade da Amazônia, além de promover atividades de educação em ciências e educação ambiental.
Mas assim como o Parque Zoobotânico, localizado no centro de Belém, a Estação Científica também pode fechar as portas. Segundo Mário Cruz, presidente da Associação de Servidores do Museu, os recursos atuais garantem as atividades até o final de 2017. Mas para 2018 não existem verbas garantidas. Daí a importância do engajamento da sociedade no movimento para salvar a instituição. “A sociedade ela já ajuda quando ela vem abraçar o Museu Goeldi. Quando ela abraçou a causa do Museu, a sociedade ela já tá ajudando o Museu nesse sentido. Agora nós só dependemos dos políticos da nossa cidade, do nosso estado, pra eles poderem fazer a parte deles”.
O abraço coletivo, iniciativa do movimento SOS Goeldi, reuniu milhares de pessoas ao redor do Parque, na manhã do dia 17 de setembro. Na multidão, estava a assistente social Carla Barbosa. “O fechamento desse patrimônio, é um absurdo. Já pensou a quantidade de pessoas que vão ficar desempregadas? As crianças não vão mais ter acesso, nós mesmos. Eu acho isso muito triste. A Amazônia já é tão sucateada. A gente já não vê mais espaços arborizados na cidade, são poucos os espaços. Só tem o bosque e agora o museu”, lamenta a jovem.
Quem também não esconde a tristeza com o possível fechamento do Emílio Goeldi é o estudante Geovani Barbosa. Ele tem 15 anos e desde a terceira série do ensino fundamental participa do Clube do Pesquisador Mirim, uma das ações de educação científica promovidas pelo Museu. O sonho do Geovani é estagiar na instituição em 2018. O adolescente assegura que “se o museu fechar não vamos mais ter esse programa que incentiva as pessoas a seguir a carreira de pesquisador”.
E para ressaltar ainda mais a importância do projeto, o coordenador Luis Videira relembra as conquistas. “O Clube do Pesquisador Mirim existe há 19 anos. Nós temos ex-alunos do clube, mais de 40 doutores formados que passaram pelo clube, temos mestrandos, temos funcionários de várias instituições que passaram pelo clube. O museu fechando fica difícil pra gente trabalhar com o clube”.
Além do abraço coletivo ao Parque Zoobotânico, a ação do SOS Goeldi inclui um abaixo assinado a ser enviado para Brasília. O estudante de Engenharia Ambiental Augusto Fadu assinou o documento e declara que “é importante abraçar essa causa e cuidar do Museu. Afinal o Museu é nosso, é da Amazônia inteira, é do Brasil”.
Outras informações sobre o movimento em prol do Museu podem ser encontradas na página do SOS Goeldi. E para conhecer mais o trabalho da instituição acesse: www.museu-goeldi.br
Reportagem: Erlane Santos