Acompanhando o movimento de diversas universidades brasileiras, a Universidade Federal do Pará oferece a partir do dia 6 de abril o curso livre O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil. A iniciativa é coordenada pela professora Dra. Zélia Amador de Deus e terá atividades ministradas por 55 docentes de diferentes áreas do conhecimento.
No Brasil, a primeira proposta de uma atividade acadêmica como essa surgiu na Universidade de Brasília (UnB), idealizada pelo professor do Instituto de Ciência Política, Luís Felipe Miguel. Na época, o Ministro da Educação, Mendonça Filho, informou que acionaria órgãos como a Advocacia-Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal para apurar o que considera improbidade administrativa dos responsáveis pela disciplina.
A ação acabou mobilizando outras instituições a promoverem cursos semelhantes. No mês de março, a UFPA divulgou a proposta do curso livre que também foi alvo de polêmicas na grande imprensa e nas redes sociais, acusando um suposto caráter anticientífico da ideia. A professora Zélia Amador, no entanto, observa com naturalidade as controvérsias e se diz satisfeita com a boa recepção do curso. ”A gente não vai se intimidar com as críticas que puderem aparecer contra a iniciativa. Nós não vamos nos intimidar. O curso vai continuar e eu tenho certeza que ele é de uma grande importância e ele é muito rico exatamente pelo caráter interdisciplinar que ele traz”, afirma.
Segundo a ementa, os objetivos do curso incluem: compreender os elementos de fragilidade do sistema social e político da América Latina e, especificamente, o caso Brasileiro; analisar os processos que levaram ao golpe, tendo como marco o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff; o impacto social e político de retrocessos de direitos e garantias do governo presidido por Michel Temer; e avaliar as perspectivas da restauração da democracia política no Brasil.
Para isso, estão previstos uma série de 27 mesas-redondas temáticas que abordam os aspectos políticos, bem como as consequências do impeachment sobre áreas sociais, como a saúde, a educação e o trabalho. “Em todas as áreas da vida você tá tendo perdas. Eu seria capaz de dizer que nós, mulheres brasileiras, estamos perdendo muito. Perdemos o ministério que tínhamos conseguido de políticas públicas específicas pra questão da mulher. Eu digo também que nós, negros e negras brasileiras, estamos perdendo muito. Nós perdemos a nossa secretaria com status de ministério, que era a Seppir (…) Nós, detentores de direitos humanos, estamos perdendo muito também porque, inclusive o Ministério de Direitos Humanos deixou de existir. Então, na verdade, são muitas perdas pra toda população brasileira”, ressalta Zélia.
Nesse sentido, a professora acrescenta também que a UFPA pode apoiar esse debate nacional ao apresentar um olhar sobre os reflexos desses elementos na realidade amazônica. “É um curso que tá se espalhando pelo Brasil inteiro. É uma forma de resistência das universidades brasileiras. E a contribuição que nós podemos trazer é de inserir essa discussão na região, de trazer pra cena acadêmica uma série de temáticas que precisam ser discutidas, que precisam ser encaradas, que a gente precisa enfrentar”.
Serviço: As atividades do Curso Livre O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil serão realizadas sempre às sextas-feiras, de 17h às 19h, ao longo do 1º e 2º semestres de 2018. Todos os eventos tem inscrições gratuitas e serão abertos tanto à comunidade acadêmica quanto ao público em geral. A programação será divulgada na fanpage, onde também serão atualizadas as informações sobre locais de realização e bibliografia.
Texto: Fabrício Queiroz
Foto: Tony Winston/Agência Brasília