O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará

O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará é o estudo em destaque nesta edição do programa UFPA Pesquisa. Por telefone, a jornalista Elissandra Batista conversa com o professor Jean François Yves Deluchey, que coordena o trabalho que integra os projetos do Grupo de Estudos sobre as Normalizações Violentas das Vidas na Amazônia (Cesip-Margear).

Implantado há 10 anos pelo professor Jean Deluchey, o Cesip-Margear trabalha de forma interdisciplinar em quatro linhas de pesquisa que buscam entender os processos de invisibilidade e apagamentos na região amazônica. “Estamos tentando analisar todos os processos de normalizações e constrangimentos sociais que podem muitas vezes ser extremamente violentos sobre os grupos sociais, as comunidades tradicionais e também sobre os indivíduos. E, assim, estamos relacionando esses fenômenos locais na Amazônia com a análise do quadro normativo que temos dentro da ordem capitalista e dentro da divisão internacional do trabalho. Ou seja, estamos recontextualizando os problemas locais com uma análise global”, destaca o professor Deluchey.

Em relação a pesquisa O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará, o professor Jean Deluchey ressalta que o estudo faz parte da quarta linha de pesquisa do Cesip-Margear, denominada “Governamentalidade neoliberal e apagamento das formas de vida na Amazônia”. Os resultados do trabalho demonstram que a política de extermínio da juventude negra de periferia no Pará se constitui como um dispositivo estruturante do sistema governamental neoliberal.

Dessa forma, o professor Jean explica que “o neoliberalismo transforma a nossa visão sobre as nossas vidas e sobre o mundo em cálculos econômicos e, assim, o que não serve para a economia então não é útil (…). Isso traz consequências porque quando você coloca todo mundo como agente econômico, que tem que buscar a sua felicidade a partir de um mundo que é fechado e onde tem recursos limitados, todo mundo está em competição com todo mundo. E isso traz uma violência nas relações sociais entre as pessoas. Violências que vão até a justificação do extermínio da juventude de periferia no Brasil. É por isso que a gente tem que resituar esse fenômeno dentro do quadro normativo neoliberal”.

A pesquisa O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará é resultado de um intenso trabalho que envolveu técnicas quantitativas e qualitativas nos procedimentos metodológicos. No total foram reunidas e analisadas 470 mil notícias sobre os homicídios no Pará entre os anos de 2010 e 2018, em paralelo com as estatísticas oficiais dos órgãos governamentais sobre esses crimes no mesmo período, aqui no Estado. Já a análise qualitativa do estudo denominada “Narrativas de dor: gênero e política em movimentos de familiares de vítimas de violência do Estado” envolveu a realização de entrevistas com mães e avós de jovens assassinados principalmente durante chacinas.

“Eu considero que o diferencial dessa pesquisa foi dar nomes às vitimas. Foi conhecer suas histórias. Foi analisar o extermínio não sob a perspectiva de um corpo estirado no chão. Mas sob o olhar de amor de uma mãe que conta a história de vida do seu filho. Essas mães que transformaram uma dor individual em luta coletiva. E a luta delas é pra que a juventude de periferia tenha o direito de viver”, relata Laís Gama, estudante do curso de Serviço Social, que participou da pesquisa desenvolvendo trabalho de iniciação científica.

Com financiamento e apoio de instituições internacionais, a pesquisa O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará também contou com a participação da professora da faculdade de Ciências Sociais da UFPA, Barbara Veloso Dias. “O que esse estudo me mostrou é um verdadeiro escândalo que acontece no nosso País  e no nosso Estado. Nós estamos matando os nossos jovens. Nós estamos acabando com o futuro do nosso Estado e do nosso País porque são os jovens que vão garantir que nós tenhamos potencialidade criativa de nos reinventar constantemente. E nós estamos preventivamente matando essa possibilidade. Essa possibilidade de um espaço público solidário, democrático e inclusivo”, alerta a professora Barbara Dias.

Para saber mais sobre os resultados da pesquisa O extermínio da juventude de periferia no estado do Pará não perca esta edição do UFPA Pesquisa. Além disso, o trabalho completo você acessa em: https://www.academia.edu/41285278/Biopol%C3%ADtica_e_Morte_no_Brasil_O_Exterm%C3%ADnio_da_juventude_negra_ultra_perif%C3%A9rica_na_Amaz%C3%B4nia.   

Apresentação: Elissandra Batista

Produção e roteiro: Isabelly Risuenho

Gravação e montagem: João Nilo

Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz

Coordenação geral: professora Ana Lúcia Prado

Imagem:https://www.brasildefato.com.br/2017/05/23/campanha-contra-genocidio-da-juventude-negra-e-lancada-em-belem-pa

Compartilhe !

Id:9029

Pular para o conteúdo