Eleições 2020 – Corrupção

A Rádio Web UFPA leva ao ar esta semana a série especial do programa UFPA Entrevista sobre as Eleições 2020. O objetivo é dar ao eleitor, especialmente o de Belém, um panorama do contexto político atual, para melhor entender a repercussão de temas fundamentais na disputa eleitoral pelo comando da cidade nos próximos quatro anos.

No primeiro programa da série, para falar sobre corrupção, entrevistamos a professora Marise Morbach, doutora em ciência política e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA. Este programa será exibido, excepcionalmente, nos horários do UFPA Debate.

A corrupção pode ser vista como um problema sistêmico, estrutural e histórico no Brasil e que atinge de maneira devastadora a população que precisa e espera por políticas públicas eficazes. A promessa de enfrentá-la é lema recorrente nas campanhas eleitorais, no entanto, dados da ONG Transparência Internacional apontam uma piora no combate à corrupção no Brasil no ano de 2019, destoando do discurso utilizado por grande parte dos políticos, especialmente os eleitos com base na promessa de exterminá-la do país, como fez, quando candidato, o atual presidente.

Apesar do notável aumento da repercussão do tema no Brasil a partir da Operação Lava Jato, não se vê empenho em fazer com que o cidadão o compreenda de maneira mais aprofundada. Segundo a professora Marise Morbach, isso se dá porque a visibilidade dada ao tema a partir da Lava Jato esteve aliada a interesses eleitorais e políticos da operação, que detinha alguns “alvos políticos”, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E pontua que aquilo que se convencionou chamar corrupção a partir da Lava Jato, não condiz com sua definição, ou mesmo com as ramificações e formas de ação, delineadas na Ciência Política, além de prejudicar a relação do cidadão com a política.

“Essa forma de visibilidade da corrupção que está sendo dada no Brasil desde a Lava Jato, ela é muito prejudicial à política e às instituições da política. Para o senso comum, os que não acompanham, os que não entendem as coisas, fica parecendo que a corrupção é o grande mal do país, que por isso nada dá certo e que os políticos só estão aí para roubar”, avaliou a pesquisadora.

Para Marise Morbach, a visibilidade construída dessa forma pela Lava Jato sobre a corrupção confunde a cabeça do cidadão e o sujeita à uma visão negativa e moralizadora, que lhe faz crer que todos os políticos são iguais e corruptos. E, nesse contexto, dentro da disputa pela Prefeitura de Belém, conforma-se uma dificuldade de intervir junto ao eleitor, para que este elabore bem ou melhor sua escolha. Haja vista que, entre os candidatos à prefeitura da capital, verifica-se os mesmos elementos que constituíram o chamado “fenômeno Jair Bolsonaro” em 2018, notadamente: a ascensão do pentecostalismo, do militarismo e do empreendedorismo; todos procurando saídas à profunda crise econômica instalada desde 2014, para fazer valer seus interesses.

“É um momento muito difícil, agora a gente sempre acredita que o eleitor aprende de alguma forma. Mas, formas mágicas para mudar esse quadro, elas realmente não existem. Principalmente em um quadro de desigualdade social tão grande e de um acesso tão restrito a bens públicos de qualidade”, ponderou.

Sobre os dados divulgados pela ONG Transparência Internacional, apontando piora no combate à corrupção no Brasil a partir de 2019, a professora avalia como repercussão de uma empreitada voltada a pessoas específicas, sem gerar uma discussão que revele os caminhos desta investigação, bem como, da interferência, nas instituições políticas, por magistrados, desobedecendo às regras do sistema político brasileiro, produzindo conflitos institucionais prejudiciais à sociedade.

Esse contexto, aliado ao discurso evangélico e militarizado adotado pelo governo Jair Bolsonaro, que desvia a atenção da população para a questão cotidiana e moralista, possibilitam com que os grupos que já lesavam o orçamento e os interesses públicos mantenham-se em ação.

“Isso faz com que esses caminhos, já conhecidos pelos agentes que mantém essas práticas de corrupção, se ampliem e percam a visibilidade no jogo político. Porque o que o governo Jair Bolsonaro produz 24 horas por dia são dissensos entre os agentes políticos. E isso mascara todo um quadro de desmanche das instituições”, explicou a cientista política.

A professora também descreve o quadro atual das instituições brasileiras como desolador e conclui que não há orientação eficaz a ser dada aos eleitores de Belém para que decidam seu voto na eleição, pois é preciso considerar que o cidadão decide o voto com base no que é melhor para si. Deste modo, sugere que, aqueles que têm condições, decidam a partir da observação das origens dos candidatos, dos fatos em que estão envolvidos e daquilo que é de seu interesse.

Para acompanhar a entrevista na íntegra, acompanhe o primeiro programa da série do UFPA Entrevista especial Eleições 2020, nesta segunda-feira, 09 de novembro, às 10h, na Rádio Web UFPA.

Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Victor Lorran
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira e Elissandra Batista

A série do UFPA Entrevista especial Eleições 2020 vai ao ar de 09 a 12 de novembro. O UFPA Entrevista sobre corrupção será exibido, excepcionalmente, nos horários do UFPA Debate, na segunda às 10h da manhã, com reprise às 21h; na quarta-feira, às 19h; e no sábado, às 11h.

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