Viver e ser reconhecido da forma como se deseja é um dos direitos mais básicos que alguém pode reivindicar, mas ao longo do tempo, a população transgênero vem sendo alvo de opressões e discriminações que levam ao cerceamento desse direito e à marginalização.
Esse cenário é ainda mais grave no Brasil, já que o país é o que mais mata transexuais, de acordo com a ONG Transngender Europe. Entre 2008 e 2016, foram registrados 878 homicídios relacionados à transfobia. Tamanha violência faz com que a expectativa de vida de uma pessoa transexual seja de 35 anos, 40 anos a menos que a expectativa de vida da população em geral.
A discussão sobre a população transgênero é recente no Brasil. Até 1997 era proibido fazer a redesignação sexual, popularmente chamada de cirurgia de mudança de sexo. E foi só a partir de 2008 que o procedimento passou a ser oferecido em hospitais públicos. Hoje, o Pará também conta com um ambulatório de atendimento. Administrado pelo governo do estado, é o único da região Norte.
Nesta edição do UFPA Debate confira as conquistas e os desafios da população transgênero no Brasil. Quem debate o tema é o professor do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPA e líder do grupo de pesquisa Sexualidades, Corpo e Gênero, Fabiano Gontijo, e a ativista dos direitos LGBT, Renata Taylor.
O professor Fabiano aponta que a visão dominante sobre as definições de gênero e identidade sexual, baseadas no modelo masculino e feminino, são construções sociais que foram se cristalizando nas instituições e na produção de conhecimento ao longo do tempo. Por isso, ele considera que um dos papéis da academia é questionar por que e quando esse modelo começou a prevalecer e quem são os responsáveis por reproduzi-lo, considerando que há sociedades que têm uma visão mais diversificada sobre os gêneros sexuais. Para reduzir a marginalização a que uma parte da população transgênero está submetida, o professor considera que as políticas públicas devem envolver várias frentes, como a de combate à pobreza e ao racismo e debates na escola.
Já a ativista Renata Taylor conta um pouco da sua história e de como foi a descoberta de que era transexual. Nascida no interior do Pará, Renata percebeu desde cedo que era diferente dos irmãos porque não sentia atração por outras mulheres e não se identificava com o gênero masculino, mas não tinha acesso a muitas informações nem conhecia pessoas na mesma situação. Foi só aos 17 anos que começou a ter um contato maior com o universo da população transgênero. No processo de mudança, Renata enfrentou hostilidade e agressões, mas também foi acolhida pelo pai.
Engajada com diversas iniciativas de apoio e luta pelos direitos dos transgênero, Renata é hoje uma voz na busca por sensibilizar a sociedade à respeito dessa população e que serve de inspiração e orientação para outros transexuais, chegando a ajudar uma mulher transexual a entrar na universidade. Uma das mobilizações é pela mudança do entendimento da Classificação Internacional de Doenças, que ainda trata a transexualidade como um transtorno.
Renata também aconselha os transexuais a não se submeterem a tratamentos clandestinos para mudar características físicas, o que pode trazer sérios riscos à saúde, e a não terem pressa para fazer a cirurgia de redesignação sexual, pois há casos de pessoas que se arrependem ou ainda não estavam preparadas o bastante.
Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Leonardo Rodrigues
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira
Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil