Corpo e Alma do Desfile da Sapucaí

“Corpo e Alma no desfile da Sapucaí – 19.02.2020”

UFPA Entrevista

Rádio Web UFPA

Corpo e Alma do Desfile da Sapucaí é o assunto nesta edição do UFPA Entrevista sobre carnaval. Nossa conversa é com a professora Doutora Margaret Refkalefsky, autora do livro que é resultado de pesquisa sobre as relações entre o espetáculo e o corpo feminino no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Apaixonada por carnaval, Margaret Refkalefsky revela que estabeleceu um trabalho de relação da Universidade com a cultura popular, por meio de sua atuação como coordenadora do Núcleo de Artes da UFPA na década de 1990, onde conduziu a montagem das exposições “Depois do Carnaval”.

“Acabava o carnaval, nós trazíamos os carnavalescos, montávamos todos os croquis dos desfiles, montávamos os manequins com as fantasias de destaque e, a cada final de semana, eles vinham com samba, bateria. Era uma festa, porque era domingo, na praça da República, todo mundo ia para lá e a gente conversava muito”, relembra a professora.

Após o mestrado, no qual abordou o figurino no teatro de pássaros juninos, Margaret resolveu reafirmar seus laços com o carnaval. A escolha de uma escola de samba do Rio de Janeiro se deu como forma de buscar um modelo, já que a capital fluminense é o berço dessa tradição carnavalesca. Sobre a definição das mulheres como sujeito da pesquisa surgiu de um exercício de sororidade.

“O carnaval sempre foi muito machista. Se a gente olhar, raras são as mulheres que são carnavalescas, diretoras, presidentes de escola, você conta nos dedos na história das escolas. A mulher, de maneira geral no carnaval, ela foi muito discriminada. Eu não entrei diretamente na questão do feminismo,
mas achei que alguém tinha que dar o lugar para a mulher lá dentro”, avalia a pesquisadora.

No trabalho de campo, o qual revela haver lhe rendido uma bela experiência, de pesquisa e de vida, Margaret conviveu por meses nos espaços da Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra, de São Gonçalo, e deu ao trabalho o enfoque sobre o corpo feminino nu e vestido no desfile da escola de samba.

“Aí eu escolhi dois personagens dentro da escola: a baiana que representa toda a tradição da escola e é um personagem que, aparentemente não tem corpo, o corpo dela é a fantasia. E, por outro lado, eu procurei quem era que era um lugar muito importante em termos de destaque. Como muda todo o ano
o enredo e mudam os destaques, tinha que ter um lugar que fosse quase que permanente e que todas as escolas tivessem e que fosse único, aí eu escolhi a madrinha de bateria, representando a nudez do corpo, que era também um corpo que não era verdadeiro, era trabalhado para aquele momento”, explica.

A professora assinala que o desfile da escola de samba é uma forma diferenciada de arte cênica, que usa um espaço diferente, carregando em si o próprio cenário e à medida que vai contando a história, convida o espectador a participar. “É apaixonante porque a escola faz um convite. Você pode ir para uma ópera e você se emociona, vai para um espetáculo e se emociona, mas imagina que nunca pode estar lá. Mas na Escola de Samba, ela te dá esse feedback, que tu podes vir, tu entras e aqui tu podes brilhar”, reflete.

Assim como no livro Corpo e Alma do Desfile da Sapucaí, Margaret conta no programa um pouco de sua experiência enquanto brincante na Marquês de Sapucaí. “E eu fiz parte do espetáculo. Eu desfilei de baiana. Então a gente entende porque as pessoas se apaixonam, porque não é só o momento. É toda uma preparação, todo um envolvimento anterior. É todo um pessoal que não está ali de graça, é toda uma vivência. Quando eu entrei na avenida e senti aquilo que elas (as baianas) diziam que era para sentir, foi que eu compreendi uma série de coisas, que na teoria pareciam um pouco abstratas”, relatou.

Sobre o corpo e alma do desfile, Margaret pontua que as baianas são a alma da escola e o corpo é um duplo: está na paixão pela escola, que a baiana tem e no corpo que vai e volta, a convite, na figura socialmente prestigiada da madrinha de bateria. Sobre a experiência, Margaret finaliza: “Eu fui fazer pensando que eu já conhecia muito as escolas de samba, mas eu vi que eu conheço agora um outro lado, esse lado do trabalho, da solidariedade, da paixão, que parecia, mas não parecia. E todas as relações que se estabelecem lá dentro e tudo isso é claro que mudou o meu modo de ver”.

Para saber mais sobre o processo de construção do livro Corpo e Alma do Desfile da Sapucaí não perca esta edição do UFPA Entrevista.

Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Susan Santiago
Gravação e montagem: João Nilo
Direção: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz

O UFPA Entrevista vai ao ar todas às segundas-feiras e quartas-feiras, às 15h, e nas terças e quintas às 19h.

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