A falta de formação dos professores ainda é uma realidade preocupante na educação brasileira. Em 2009, cerca de 32% dos professores atuantes no ensino básico não tinham concluído o ensino superior. O censo escolar 2017 revelou que este número caiu para 15%. E um dos principais fatores apontados para a queda nos índices é o Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR), criado em 2009, mas que está ameaçado pelo corte nas verbas da educação. Em fevereiro de 2018, o Ministério da Educação (MEC) não destinou os recursos financeiros ao PARFOR.
Nesta edição do UFPA Ensino, os ouvintes podem conhecer mais sobre o PARFOR e o movimento Resiste PARFOR, que surgiu para lutar pela continuidade do Plano. Participam do programa: a presidente do Fórum Nacional de Coordenadores institucionais (FORPARFOR) e coordenadora adjunta do PARFOR na Universidade Federal do Pará, professora Josenilda Maués; A coordenadora do PARFOR na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) professora Liliane Afonso; e a doutoranda de Geografia e egressa da primeira turma de geografia do PARFOR na UFPA Carla Joelma Lopes.
Para Carla Joelma Lopes, cuja família pertence à uma comunidade quilombola no interior do município de Baião onde até hoje há limitações no sistema educacional, o PARFOR trouxe mudanças na sua vida pessoal e profissional. “A minha vida mudou radicalmente porque eu cheguei aqui sem a formação adequada, lecionava uma disciplina dentro da escola que era estudos amazônicos e não era formada em Geografia. E aí consegui primeiro a formação, e em seguida, por conta do próprio percurso de formação eu avancei para o mestrado e isso qualificou muito o meu trabalho”. No mesmo ano em que concluiu o mestrado, Carla Joelma entrou para o doutorado, sem nunca sair da sala de aula onde atua há 26 anos, apenas reduziu a carga horária para que pudesse se aperfeiçoar. Segundo a egressa, seu caso não é isolado. De sua turma mais dois alunos avançaram para o mestrado e relatos semelhantes são encontrados em outros estados.
A professora Liliane Afonso destaca os números do PARFOR na UFRA, que desde 2010 atendeu mais de 1.675 egressos distribuídos em 68 turmas localizadas em mais de 25 municípios paraenses. Atualmente atende 9 turmas de Licenciatura em Computação e Letras Libras, nos municípios de Belém, Capanema, Capitão Poço, Dom Eliseu, Muaná e Tomé açu. A professora destaca ainda o desempenho dos alunos após a graduação. “Nós temos alunos egressos do PARFOR que hoje já assumiram secretarias de educação nos municípios, ou seja, que já estão pensando na formação de professores com qualidade dentro daquele município”. Outro impacto positivo ressaltado pela professora é a melhoria dos índices educacionais, uma vez que a formação de professores é um dos elementos considerados nos índices.
Apesar da importância do PARFOR, há três anos o programa enfrenta dificuldades, segundo a presidente do FORPARFOR Josenilda Maués. “Em 2015, houve tanto um atraso no recurso, o que levou algumas universidades a suspenderem as atividades, quanto um corte substantivo nos valores, e não abriu mais turma. Isso veio demonstrando um processo de descontinuidades das ações de formação”. Em fevereiro de 2018, o Governo Federal excluiu o PARFOR do orçamento para formação de professores, a partir daí começou uma intensa mobilização nacional denominada Resiste PARFOR, que está lutando para que o programa continue, uma vez que, apenas a educação à distância não conseguiria atender as demandas de todos os municípios, especialmente os amazônicos. Audiência públicas já foram realizadas em Brasília para discutir o tema.
No UFPA Ensino, entenda mais sobre movimento e as perspectivas para a continuidade do PARFOR no Brasil, especialmente, no Pará, onde já atendeu mais de 27 mil professores. Entenda também como funciona, quais os desafios, as particularidades no Estado do Pará e o modo como o PARFOR tem afetado e modificado os cursos de licenciatura nas Universidades, a partir do contato efetivo com a realidade educacional nos municípios mais distantes.
Apresentação: Elissandra Batista
Produção e roteiro: Erlane Santos
Gravação e montagem: João Nilo Ferreira
Supervisão e edição: Elissandra Batista e Fabrício Queiroz.
O UFPA Ensino vai ao ar às quartas-feiras, às 10h e 21h.
Horários alternativos: Sexta-feira, às 19h, e sábado, às 21h.