No UFPA Pesquisa desta semana você vai conhecer os trabalhos do Grupo de Pesquisa Engenharia de Produtos Naturais (GEPRON). Os convidados do programa são Lênio José Guerreiro de Faria, coordenador do grupo; Tayná Coelho Parente, estudante do curso de Engenharia Química da UFPA; e Rafael Alves do Nascimento, mestrando em Engenharia Química na UFPA.
“O objetivo do GEPRON é obter produtos de grande interesse da população, por meio de matérias-primas naturais ou de rejeitos de processamentos de produtos naturais”, diz Lênio Faria, que é professor da Faculdade de Engenharia Química e, também, dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia Química e em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia, ambos da UFPA.
O grupo foi criado em 1995, a partir de um convênio entre a UFPA e a fabricante de automóveis alemã Daimler-Benz. A empresa, com várias marcas multinacionais, pretendia fabricar um “veículo verde”, com maior parte de seus componentes provenientes de produtos naturais, como a tintura das cortinas, lubrificantes à base de óleos vegetais e fibras naturais para os bancos e encostos de cabeça. “O projeto recebeu um recurso de cerca de R$ 2 milhões para o desenvolvimento de pesquisas nas áreas de aproveitamento de matérias-primas produtoras de corantes naturais, fibras vegetais, óleos essenciais e óleos fixos”, conta o professor.
Assim, surgiu o GEPRON, contando, inicialmente, com dez pesquisadores, com bolsas da Mercedes-Benz. De acordo com o professor, a parceria, que terminou em abril de 1997, trouxe muitos resultados positivos. “Esse convênio possibilitou a elaboração de muitos trabalhos acadêmicos, como monografias, teses, dissertações e outras publicações dentro da área, beneficiando muitos alunos. Foi muito bom para a Mercedes-Benz e para a Universidade. Com o fim da parceria, continuamos a desenvolver as pesquisas nessa área, na Faculdade de Engenharia Química, com recursos próprios e, depois, com outros projetos associados”, diz o engenheiro químico.
Segundo Lênio Farias, todos os produtos naturais trabalhados no Grupo são orgânicos. Uma das linhas de pesquisa é voltada para a produção de corantes naturais. Para o professor, a interação entre a engenharia, a partir dos fundamentos da ciência, e o conhecimento tradicional foi bastante relevante para a evolução das pesquisas, como se observa nos produtos corantes desenvolvidos a partir do fruto jenipapo (Genipa americana).
“Existe um corante natural que fornece uma cor azul-marinho, bastante utilizado pelos povos indígenas em pinturas corporais. E o fato de, na natureza, ser difícil encontrar a cor azul, despertou nossa curiosidade de tentar extrair esse corante do jenipapo. Conseguimos extrair e estudamos a estabilidade do corante referente à luz e à temperatura, para poder ter uma aplicação industrial e tecnológica. Ele tem várias aplicabilidades na indústria de cosmético, por exemplo”, explica.
Há cerca de um ano, o GEPRON desenvolve pesquisas voltadas para o aproveitamento racional de subprodutos de rejeitos de indústrias. Entre eles, o aproveitamento da fibra retirada do caroço do açaí. “Sabemos que na Região Metropolitana de Belém cerca de 30 toneladas de caroço de açaí são descartadas, diariamente. Como trabalhamos com rejeitos de produtos naturais, conseguimos produzir uma chapa de construção de movelaria com a fibra da superfície do caroço do açaí. Temos até uma patente desse produto”, afirma o professor.
Além de desenvolver pesquisas com base nos produtos e rejeitos naturais, o GEPRON também incentiva a formação de recursos humanos qualificados para a Amazônia. Após ter entrado na Faculdade de Engenharia Química, Rafael Nascimento se interessou bastante pela área de produtos naturais que, segundo ele, tem grande potencial na região. “Entrei no grupo de pesquisa há cerca de sete anos e desenvolvi meu TCC. Agora, estou terminando o mestrado e pretendo seguir com o doutorado nessa área”, conta o pesquisador. Assim como Rafael, a bolsista Tayná Coelho também atua no GEPRON, mas como bolsista PIBIC.
Segundo Tayná Coelho, usar rejeitos industriais provenientes de produtos naturais é muito importante, já que nos dias de hoje tem-se uma grande preocupação com as questões ambientais. “Eu trabalho na área de bioadsorvente. No meu caso, eu uso a fibra do dendê como bioadsorvente. Além de ser um produto natural é também um rejeito, utilizado na indústria de corante”.
Para a estudante, o trabalho em torno da fibra de dendê contribui para o meio ambiente, assim como tem grande vantagem mercadológica. “O objetivo é pegar esse rejeito, que seria descartado, e usá-lo como bioadsorvente. No laboratório, eu faço uma coluna, em pequena escala, para testar essa adsorção e, futuramente, levar a uma escala industrial. É uma técnica de baixo custo, de interesse da indústria, além de contribuir com o meio ambiente”, reforça.
Outras pesquisas também são desenvolvidas no Grupo, como as que trabalham em torno do processo de secagem. A secagem de polpas e frutas está sendo desenvolvida por Rafael Nascimento com o intuito de obter o pó dessas polpas. “Sabemos que as polpas têm problemas de conservação, pois oxidam muito rápido. Eu trabalho, mais especificamente, com a secagem da polpa da bacaba, para facilitar o transporte e armazenamento desta fruta. A minha pesquisa de mestrado, também, é sobre isso”, fala o pesquisador. A secagem das polpas é desenvolvida a partir de um processo conhecido como leito de jorro, como alternativa ao processo de spray dryer, normalmente utilizado por indústrias exportadoras de polpas de açaí em pó.
Pesquisas em torno da produção de óleos essenciais processados a partir de ervas aromáticas da Amazônia também estão sendo desenvolvidas no Grupo, alcançando grande avanço nessa área. “Alguns óleos essenciais não podem ser misturados a produtos sintéticos. Tem de ser natural. Então, um dos principais projetos que temos é o de obtenção de óleos essenciais de plantas aromáticas da Amazônia. Trabalhamos com plantas para a indústria de perfumaria e para inseticidas naturais. Têm, também, algumas plantas com grande potencial na eliminação de fungos sem precisar concentrar muito óleo”, revela o professor Lênio Faria.